segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

 

Uma data inesquecível, uma crônica sobre uma anedota e golpe de estado.

 

O dia primeiro de dezembro tem um significado importante para nossa família: trata-se da data que comemoramos o nascimento do meu saudoso pai, José de Carvalho Déda. Ele nasceu em 1º de dezembro de 1898.

Neste fim de semana, lembrei-me mais uma vez de meu pai, ao ler, como sempre o faço, as crônicas escritas pelo cearense José Nilton Fernandes, que rememora fatos do seu tempo de criança na cidade de Aracati (CE). E a lembrança aconteceu porque o José Nilton tem o hábito de escrever fazendo comparações, e o faz com maestria.

Carvalho Déda dizia que o nordestino conversa fazendo comparações, de modo a ser melhor compreendido. Como folclorista, registrou um mundão de comparações em seu livro "Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano". Hoje, para comemorar o dia do seu nascimento, transcrevo um interessante artigo que ele escreveu em 1954, no qual faz uma pertinente comparação entre os acontecimentos políticos daquela época e a anedota do "Burro Carregado de Panelas".



Antes de mostrar o texto, é bom esclarecer que, naquele ano, nosso Brasil passava por uma grave crise política, gerando temerosa desconfiança, diante da possibilidade de um golpe militar, especialmente pela publicação do “Manifesto dos Coronéis”, um ato de insubordinação de militares contra o Presidente Getúlio Vargas, e que, na sequência de outros acontecimentos políticos, teve como consequência, ainda naquele ano, a deposição e o suicídio do Presidente Getúlio.  

Carvalho Déda escreveu o texto diante de uma declaração do General Góis Monteiro sobre a facilidade de golpe no Brasil. Como bom nordestino e estudioso do folclore fez uma interessante comparação.

Transcrevo o artigo:

      

“UM BURRO CARREGADO DE PANELAS

Escreveu Carvalho Déda *

Nós, sertanejos sergipanos, temos o hábito de conversar fazendo comparações. As conversas e os comentários, por mais importantes que sejam, têm melhor sabor quando temperados assim.

Se compararmos o Brasil atual como aquele burro da anedota, não vejam nisso nenhuma falta de patriotismo. São coisas de sertanejo, e o costume do cachimbo deixa a boca torta...

Eu não tenho aquele “jeitão” de contar anedotas, contudo vou tentar aquela do burro carregado de panelas, a propósito da situação atual: Conta-se que um ingênuo matuto conduzia um burro carregado de frágeis panelas de barro, quando, à certa altura, surgiu um gaiato que fingindo segredar algo na orelha da alimária e, sem que o dono percebesse, jogou a ponta do cigarro dentro da ouça do burro infeliz, que por sinal nunca em sua vida dera um coice. Aconteceu que, com o fogo na broca do ouvido, o manso animal virou o diabo: pulou, pinoteou, escouceou, atirou fora as panelas em cacarecos e “picou-se” no mundo desenfreadamente. O matuto queria uma explicação e perguntou ao gaiato: - Que diabo foi que você disse a meu burro? E o outro: - Disse-lhe apenas que a mãe dele havia morrido! E o camponês, exaltado: - Homem, isto é coisa que se diga a um burro carregado de panelas?!...

A historieta vem a propósito do recente depoimento do General Góis Monteiro, testemunha na ação de ressarcimento de danos proposta pela família do saudoso político paulista Dr. Armando de Sales Oliveira contra a União. Entre outras coisas, disse o General Góis: - “É facílimo dar um golpe no Brasil. Para se dar um golpe, basta o seguinte: um clima especial, um ministro político, o Ministro da Guerra aderir juntamente com o Chefe de Polícia, e, finalmente, um País desmoralizado...”

É o caso de perguntarmos, sertaneja e sergipanamente falando: - General, isto é coisa que se diga a um burro carregado de panelas?!..”   

*Texto escrito por Carvalho Déda, sob o pseudônimo Pakézo, publicado no jornal A Semana, edição de 20/02/1954.

 ...       

Ao reler esta antiga crônica, e cotejando com acontecimentos recentes, ficamos a pensar que alguns militares e políticos da atualidade ainda acreditavam na facilidade de dar um golpe. Não esperavam que confrontariam com pessoas que respeitam e lutam em defesa de princípios constitucionais. Os golpistas planejaram tudo e iniciaram os movimentos para impor uma ditadura aos brasileiros. Felizmente houve reação, o plano e os criminosos foram enfrentados, derrotados, condenados e já estão vendo o sol quadrado.

Hoje, essa anedota seria contada em um pitoresco texto, com título: “Um burro carregado de golpistas”. No qual se narraria que o animal, atormentado com o fogo na broca do ouvido, picou-se, desenfreadamente, pinoteando e trancafiando os golpistas nas celas da Papuda.  E finalizaria com a indagação:

 “Isto é coisa que se diga a um burro carregado de golpistas”.

 Aracaju, 01/12/2025

BETO DÉDA




sexta-feira, 28 de novembro de 2025

 

       Visitando ilustres historiadores.

 

Ontem, 27/11/2025, eu e as queridas amigas Amanda Santos e Cândida Oliveira tivemos a alegria de visitarmos o renomado historiador Ibarê Dantas e sua esposa Beatriz Góis Dantas, que é antropóloga e também ilustre escritora, ambos eméritos professores da Universidade Federal de Sergipe.



A visita foi programada pela conterrânea historiadora Amanda Santos e teve como objetivo colhermos autógrafos em livros publicados pelo casal de escritores.

Na ocasião, tivemos a alegria de colher o autógrafo do Prof. Ibarê em seu recém lançado livro “Florentino Telles de Menezes –Pensamento e Ação”; e a assinatura da Professora Beatriz em seu livro “Povos Indígenas em Sergipe- Contribuição à sua História”.




Foi uma tarde agradabilíssima, de muita conversa proveitosa, quando recebemos ensinamentos do admirável par de literatos sergipanos.

Ficamos imensamente agradecidos pela cortesia do gentil casal.

A professora Cândida Oliveira registrou o acontecimento em fotos que apresentamos acima.

 

Aracaju, 28/11/2025

BETO DÉDA

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

 Lágrimas, saudade e a promessa tardia....

Com pesar, tenho uma notícia triste para os parentes e amigos: a segunda-feira, dia 20 de outubro, foi um dia de lágrimas e de saudade para nossa família. O querido sobrinho Dílson Déda de Aquino passou dessa para a vida eterna. Ele tinha 57 anos de idade, era filho de minha irmã Helena Déda Aquino e do falecido esposo Valdenor Aquino.

O meu sobrinho estava hospitalizado há quinze dias e não conseguiu resistir a uma parada cardíaca fulminante.

Lembro-me, agora, do último encontro com ele, há poucos meses, na casa de minha irmã.
Eu e Dílson, em foto deste ano (acervo da sobrinha/neta Clara Déda).

Em uma boa conversa, relembrávamos fatos passados, dentre os quais uma festa religiosa que ocorreu em de 1974, na cidade de Paripiranga (BA), sua terra natal, quando ele era garoto. Sempre gostei de fotografias e registrei o saudoso sobrinho naquele dia, brincando alegremente com os primos na praça da Matriz de Paripiranga. Ele se interessou por essa informação e me pediu uma cópia da fotografia. Infelizmente esqueci de atendê-lo no tempo certo. Nestes dias de saudade, lembrei-me do pedido e passei a procurar a prometida foto em meus implacáveis arquivos. E para aliviar minha falha, consegui encontrá-la. Lamentando profundamente por ele não ter recebido a foto, reproduzo aqui para lembrança da família e dos amigos.





Nesta foto de 1974, Dilson é o mais alto, com os primos: Socorrinho e Betinho(Acervo Beto Déda)

No domingo passado, dia 26/10/2025, na Igreja Matriz de Nossa Senhora Sant’Ana, em Simão Dias, foi celebrada a missa de sétimo dia. Certamente ele foi acolhido com abraços pelos parentes que já estão no outro patamar da vida.

Segure na mão de Deus, meu querido sobrinho, e receba bênçãos...

Aracaju, 26/10/2025
Beto Déda

terça-feira, 2 de setembro de 2025

 

Um poeta amigo e um poema ao  Sol e  à Lua


Do meu amigo Paulo Rodrigues Alves recebi um poema bonito que ele escreveu recentemente sobre o amor entre o Sol e a Lua. O estimado Paulo é um companheiro que conheço há muito tempo, desde quando éramos jovens trabalhadores do Banco do Nordeste, nas cidades de Simão Dias e Aracaju.

Ele sempre foi um admirável poeta e, como tal, um sonhador que sabe escolher palavras e rimas para expressar seu sentimento. Nascido na cidade sergipana de Cedro de São João, sempre ligado à nossa cultura, é um imortal que honra a Academia Cedrense de Letras. Também faz parte de um movimento de apoio cultural da Academia Sergipana de Letras.

Em fevereiro de 2024, tive a felicidade de presenciar o lançamento do seu livro “Tendas de Minh’Alma”, uma pérola de poesias, que nos encantaram pelo esmero em selecionar cada tema que espraiava seus versos. Aqui no meu blog, em 19/02/2024, fiz comentários sobre aquele repertório de poesias.

Agora, ele usa sua verve poética e nos brinda com a beleza de um poema sobre o amor irradiante entre a Lua e o Sol, numa magia que nos faz lembrar o sentido do amor platônico: um amor distante, espiritual e quase impossível. Mesmo assim,   os amantes tiveram a rara felicidade concebida pelo Pai Celestial, ao lhes reservar no firmamento um instante de união, na passagem de um fenomenal eclipse.

Para conhecimento dos amigos e parentes, transcrevo aqui, com autorização o autor, o maravilhoso poema:


        O Sol e a Lua

                Poema de Paulo Rodrigues 



E palmas para o admirável poeta… 


Aracaju, 01/09/2025

Beto Déda






terça-feira, 26 de agosto de 2025

 

Uma visita agradável



Na manhã de sexta-feira passada, 22/08/2025, tive a alegria de receber em minha casa a visita da querida Prof.ª Amanda Santos, doutoranda em História na UFBA, acompanhada do pesquisador João Paulo. Ambos estão realizando um estudo sobre a cultura popular em Simão Dias: as Zabumbas, os Reisados e os Sambas de Roda. 

Histórica visita: Doutoranda Amanda entre João Paulo e Beto Déda


Não é pouco dizer a felicidade que tive em notar que aqueles jovens estão tentando resgatar a história de fatos folclóricos de nossa terra. E mais ainda, por me darem a honra de prestar-lhes algumas informações sobre lembranças de minha infância na Praça de São João, onde, com muita curiosidade, observava os acontecimentos e guardava em minha memória.

Aproveitei, ao máximo, o interesse dos pesquisadores e conversei das 8:30 às 12:30 horas, relembrando fatos da minha terra. De tanto conversar, acredito que tenham pensado que eu tinha "bebido água de chocalho" (termo popular que antigamente se utilizava para as pessoas que conversavam demais). 

Com os simpáticos entrevistadores, comentei sobre a Zabumba do Mestre Terto Mangueira, que percorria os bairros da cidade e acompanhava as procissões religiosas no interior do município. Zabumba era a denominação que se dava a um grupo musical em que constava de um bumbo, tocado pelo Mestre Terto Mangueira, uma gaita (flauta feita com tubo de bambu) soprada pelo baixinho Dicuri, e um triângulo, cuja batida era do galego Timbira. Nos dias de hoje, tais grupos musicais são denominadas “Bandas de Pífaros”. Mas, na linguagem popular do simãodiense, o nome era Zabumba, e a gaita de bambu é o que chamam de pífaro. Como eram muito usadas, especialmente pela meninada, inclusive eu, as gaitas eram expostas para venda na feira livre nos dias de sábado. Mas o nome era gaita, nada de pífaro, que era mais difícil de pronunciar…

Na entrevista, lembrei do tempo em que me divertia observando a apresentação de reisados no interior. Minhas lembranças são das apresentações realizadas nas noite de sábado, no povoado Areal, em frente ao armazém de Seu Antônio de Silva, pai Leninha que desde aquela época era minha namorada. O grupo do reisado era formado por jovens e adultos, com roupas e chapéus coloridos, enfeitados com fitas de papel de variadas cores. Além das moças, compunham o grupo os seguintes personagens: a “besta-fera”, o “boi-janeiro” e o “caboclo”, este era a figura principal do reisado. Inicialmente apresentavam as danças, ao som de zabumba, depois começava a luta em que a “besta-fera” matava o “boi-janeiro”. E ao final do grande espetáculo, o caboclo realiza a partilha do boi, em um formidável e divertido canto rimado. Lembro de alguns desses rimas, pronunciados com graça pelo caboclo, intercalando cada verso, após ouvir o coro se pronunciar: “Iaiá, ô Iaiá, Óia o boi que te dá!”:

“O mocotó, é pra quem dorme só…

O lugar das ‘vergonha’, é pra dona Totonha…

O redém, eu não dou a ninguém...

A rabada, é da rapaziada…

A tripa mais fina, é pra estas meninas…

A tripa gaiteira, é das muié solteira...

Tudo era divertimento, com muitos aplausos para cada verso e alguns apontavam para alguém da plateia, como se fosse a beneficiária de determinada parte do boi. E a pessoa aceitava alegremente a brincadeira em estrondosa gargalhada. A diversão encantava a todos.

Também conversei sobre as comemorações do carnaval, das festas  de largo, em comemoração ao Natal e ao Ano Novo. Entre outros fatos lembrei das festas juninas, dos cortejos de casamento na roça e,  também, no mês de junho, a “Festa do boi”, organizada por Seu Jove da Marinete, que ganhava um boi bravo de um fazendeiro e, ele junto com uma turma de jovens, ia buscar na fazenda do doador. Era uma correria pelas ruas da cidade, com ligeira e tosca semelhança à corrida de touros na Espanha. A rês era abatida e a carne era servida em churrasco, à noite, na casa de Seu Jove, na Praça Jackson Figueredo, com muita música e dança.

Não deixei de mencionar os populares blocos carnavalescos, liderados por Negão, engraxate, Domingos Bina e Jerônimo, bem como as máscaras de carnaval feitas com papel jornal colados em modelos que fazíamos com argila recolhida no Tanque Novo.

De ver-se que naquela época se dava valor à tradição cultural da terra. E lembrei que nossa cidade teve a grandeza de contar com a colaboração de pessoas que incentivavam e ensinavam a juventude a manter as tradições locais, no que diz respeito ao teatro amador, aos folguedos juninos e ao gosto pela música. E faço aqui minha homenagem a simãodienses ilustres, do meu tempo e que me recordo agora: D. Carmem Dantas, D. Clarita Santana, Prof.ª Olda do Prado Dantas, Seu Zeca Laranjeiras, Jerônimo Santa Bárbara e Mestre Raimundo Macedo.

Com tantas recordações que tenho, o tempo não foi suficiente para narrar o que guardo dos acontecimentos folclóricos de minha terra. Mas aproveitei muito a oportunidade e fiquei feliz ao conversar com esses desbravadores da história contemporânea.

Depois de tudo, na hora do almoço, Leninha e Rosa Luxemburgo, não pestanejaram em perguntar aos moços: “Como aguentaram tantas horas de conversas? Seu Beto conversa pelos cotovelos, parece uma matraca”. E eu, com meus botões, replicava: -Ora, pois...

Espero que minha longa e por vezes dispersa conversa não tenha esgotado a paciência dos pesquisadores e, se paciência ainda tiverem, aguardo que voltem para novas lembranças e consultas aos meus desorganizados e implacáveis arquivos.


Aracaju, 25/08/2025

Beto Déda




quarta-feira, 6 de agosto de 2025

 

A Festa de Nossa Senhora Sant’Ana em Simão Dias



Para muitos nordestinos dos velhos tempos, alguns meses do ano civil tinham denominações especiais, sempre relacionadas a eventos religiosos festivos. E o simãodiense não fugia a essa regra e tinha um nome distinto para o mês de julho, que passou a ser chamado de "mês de Sant'Ana", pela lembrança da época do ano que acontecia a consagrada festa em  homenagem à padroeira de nossa cidade.  Esta a razão pela qual sempre ouvíamos os conterrâneos, ao mencionarem um fato que aconteceu no mês de julho, costumeiramente associarem ao período da festividade da padroeira, dizendo, por exemplo: “Fulano nasceu no dia 7 do mês de Sant’Ana"; ou que "Tal caso o aconteceu no final do mês de Sant’Ana de 1962”

Pois bem, foi no período de 17 a 26 do mês de Sant’Ana deste ano, que a cidade de Simão Dias prestou homenagem à sua Excelsa Padroeira. É nessa época do ano que a cidade se remoça ao receber conterrâneos residentes em outras localidades, tudo em um clima de muita alegria, de amizade e de fé, participando de novenário e, no dia 26, consagrado a Nossa Senhora Sant’Ana, acompanhando a procissão pelas ruas da cidade até a praça Matriz, onde é realizado o ato de encerramento.


Igreja Matriz de Simão Dias -em 19-07-2025 - Foto de vídeo no YouTube



Infelizmente não pude comparecer às festividades deste ano, por problemas de saúde, devido a  uma irritante virose. Embora distante, acompanhei todas as novenas através do site da Paróquia de Simão Dias. E, por sugestão de minha amiga Professora Amanda Santos, assisti pelo YouTube ao vídeo “Documentário Senhora Sant’Ana de Simão Dias”, uma importante transmissão sobre a história de nossa paróquia, narrada por inteligentes historiadores conterrâneos: Padre Rodrigo e os professores Jorge Bastos, Geraldo Prata, Edjan Alencar e o pároco Éder Dias. 

No referido vídeo, ao acompanhar as informações prestadas pela Professora Edjan Alencar, minha memória foi estimulada a recordar fatos dos anos 50 e 60 do século passado, quando era jovem e vivenciava os acontecimentos festivos de nossa paróquia. O fato é que, naquela época, sempre acompanhei minha tia Nice (Eunice Barbosa de Oliveira, conhecida na cidade como Nice Enfermeira) em suas participações religiosas. Ela tinha sido noviça em um Convento de Freiras, em Salvador(BA), daí a sua devoção e dedicação à Igreja de Senhora Sant'Ana: fazia parte do Apostolado da Oração e da Pia União das Filhas de Maria. Foi ela a minha grande instrutora religiosa, levando-me para as aulas de catecismo, para as novenas e as missas. Até hoje ainda me lembro, e canto, trechos de hinos sacros de então.  

Semelhante ao que acontece na atualidade, também naquela época os rapazes e moças participavam contritos da “Novena dos Jovens", desfilando pelas ruas da cidade para receber e entregar o Ramo Simbólico do patrocinador da novena. Os desfiles sempre contavam com o acompanhamento da Filarmônica Lira Santana. 

Nas festividades dos anos 1960 a 1964, os fiéis de Sant'Ana tiveram a alegria de contar com a participação do Padre Sebastião Drago, da Congregação do Sagrado Coração de Maria,  um orador sacro que empolgava os fiéis com palavras fluentes, vibrantes,  ricas de imaginação e conviventes. Ele fazia parte da Equipe de Pregadores Missionários  da Casa de Belo Horizonte, e durante alguns anos participou de missões em Sergipe e Bahia. Aqui em Simão Dias, em 1953, ele acompanhou o Frei Elizeu Vieira, um estimado evangelizador da Ordem dos Carmelitas, em Santas Missões realizadas na zona rural, preparando nosso povo para o  Congresso Eucarístico que aconteceu em nossa cidade ainda naquele ano. Foi sua importante participação nesses eventos que o Padre Drago se revelou para nosso povo como o "Dragão da Palavra", daí o acerto do pároco Padre Mário Reis, em convidá-lo como para participar  da novenas de Sant'Ana nos anos de 1960 a 1964, como pregador oficial nos  sermões das missas e das novenas. 


Padre Sebastião Drago na procissão (Foto capturado da Internet)

A atuação brilhante do orador sacro Sebastião Drago  atraiu a atenção de nossa juventude, especialmente no meio dos que faziam parte da Associação de Jovens Idealistas  Simãodienses (AJIS), que vibravam ao ouvi-lo e notar a inteligência e a cultura daquele pregador, expresso não só em seus sermões como também na arte da música e na pintura. Por ocasião do Congresso Eucarístico, nos atos litúrgicos, ele executava muito bem o  harmônio e regia o coro de seminaristas italianos. E diziam também, não estou seguro sobre isto, que na Igreja Matriz da cidade baiana de Cícero Dantas estavam expostos dois painéis pintados por ele, retratando a Ceia de Emaús e a Assunção de Nossa Senhora. 

O referido vídeo sobre nossa Paróquia também me trouxe ligeiras lembranças dos vigários do tempo que morava na terra natal. O primeiro que conheci, eu tinha aproximadamente 8 anos de idade, foi o português Padre Madeira,  ele  usava uma batina preta e, lembro bem, portava  um pequena bolsa com moedas de centavos que presenteava às crianças quando lhe pedíamos a bênção. E não faltavam os pedidos de bênçãos! 

O segundo, foi o Padre Afonso, da família Medeiros Chaves de Propriá(SE), foi o nosso pároco por ocasião do o maior acontecimento católico de nossa cidade, o Congresso Eucarístico de 1953.

Em seguida foi a vez do Padre Mário Reis, que prestou grande serviço ao nosso povo, especialmente no diz respeito à educação, foi diretor do Ginásio Carvalho Neto. Do padre Mário desperta minha memória para um fato engraçado: ele não gostava que a meninada se sentasse no batente das portas laterais da Igreja. Em uma manhã de frio, eu e meu primo José Carlos Déda, estávamos em animada conversa,  sentados no batente de uma das  portas laterais, que estava fechada e que  fica ao lado da casa paroquial; o padre nos viu e, sorrateiramente, entrou na Igreja e lançou por baixo da porta um balde d'água, molhando nossos fundilhos. Diante de nossos protestos, ouvimos a risada estridente do nobre padre. Foi um fato inusitado ver o Padre Mário gargalhar... 

O seguinte foi o Padre Aureliano Silveira, que demorou poucos anos na cidade e cuja lembrança maior foi que conquistou e levou com ele uma jovem  simãodiense bonita e, dizem, com ela se casou.  

Por último, foi o Padre João Barbosa, do qual guardo a melhor lembrança, porque foi ele o celebrante do meu casamento religioso.

Em 1975, por força de meu trabalho com funcionário do BNB,  tive que me ausentar de Simão Dias, fui morar em outras plagas, mas, no mês de Sant'Ana, estava sempre  na minha terra reverenciando nossa padroeira e reencontrando parentes e amigos. Pena que este ano  uma desconfortante virose  tenha me impedido de presenciar tão magnifica festa.

Restou-me como consolo os vídeos e as recordações. 

Aracaju, 05/08/2025

Beto Déda



sexta-feira, 4 de julho de 2025

Uma homenagem a Castro Alves.


Nesta primeira semana de julho, mês de Senhora Santana, minha memória foi direcionada ao meu querido e saudoso irmão, Artur Oscar de Oliveira Déda. E a lembrança ocorreu ao examinar meus implacáveis arquivos e reler a Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Sergipe, edição número 15, ano 1971. Nessa revista, às páginas 173/180, foi publicado o texto da palestra pronunciada por Artur Oscar, no Auditório da Faculdade de Direito, em cerimônia comemorativa ao centenário da morte do poeta Castro Alves.


Naquela época , o nome de simãodienses abrilhantavam o corpo docente de nossa Faculdade de Direito. Lá estavam o Dr. Belmiro Silveira Gois, que lecionava Direito Civil I; e Artur Oscar, que ensinava Direito Civil II. Na cadeira de Direito Internacional Público estava o Dr. Joviniano de Carvalho Neto, filho do renomado jurista simãodiense Dr. Carvalho Neto, que fora professor emérito daquela Faculdade.


Segundo divulga o citado exemplar da Revista da UFS, a conferência proferida pelo Prof. Artur Oscar “contou com a presença de Professores e grande assistência de alunos”. O palestrante apresentou um estudo sobre o poeta baiano Castro Alves, evidenciando seu ideal libertário e sua luta contra a escravidão, com poemas que tocavam a alma do povo, destacando-se: “Navio Negreiro” e “Vozes d’África”.


Não fui aluno escolar ou universitário do meu saudoso irmão, embora tenha feito o curso de Direito, mas ele e meu pai foram meus excepcionais mestres. Como eu era curioso, ficava boquiaberto acompanhando os bate-papos culturais entre eles, e fazia perguntas e recebia lições formidáveis, com orientações para ler bons livros. Quando eu era jovem, não tínhamos televisão, nem telefones celulares, mas tínhamos todo o tempo disponível para leitura, e aproveitei muito isto, lendo livros clássicos da pequena biblioteca de meu pai. Foi por orientação deles que me interessei pela poesia de Castro Alves. E decorei estrofes de poemas que me impressionaram e algumas delas são citadas na palestra de Artur.


Quando meu pai (Carvalho Déda) publicou os livros “Simão Dias – fragmentos de sua história” e “Brefácias e Burundangas do Folclore Sergipano”, presenteei exemplares a colegas do Banco do Nordeste e, invariavelmente, reproduzia na dedicatória o seguinte trecho pinçado de uma estrofe tirada do poema “O Livro e a América”, em que o magistral Castro Alves dedicava ao Grêmio Literário”,

Oh! Bendito o que semeia

Livros… livros à mão cheia…

E manda o povo pensar!

O livro caindo n’alma

É germe – que faz a palma,

É chuva – que faz o mar.”

 Do poema “Navio Negreiros”, nunca esqueci a estrofe em que o poeta percebe a bandeira que “imprudente na gávea tripudiava”, transformando-se em manto impuro, para cobrir tanta infâmia e covardia. Eis a estrofe:

Auriverde pendão de minha terra,

      Que a brisa do Brasil beija e balança,

 Estandarte que a luz do sol encerra

   E promessas divinas da esperança…

Tu que, da liberdade após a guerra

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

      Que servires a um povo de mortalha!…”

Sobre esta estrofe, fico a pensar o que escreveria o grande poeta, se vivesse conosco na atualidade, e notasse que o nosso estandarte fora indignamente raptado para transformar-se em manto de extremistas, que estimulam o ódio e o preconceito.  

...

Acredito que as recordações que tive não sugiram do nada. É possível que tenha sido impulsionado pelo inconsciente coletivo ou a sincronicidade, tudo despertado pela proximidade da data em que o “Poeta dos Escravos”, em  06 de julho de 1871, com apenas 24 anos de vida produtiva, passou para o mundo celestial. No próximo domingo perfaz 153 anos que nos deixou.


Pensando também em homenagear o grande poeta do Brasil, transcrevo, a seguir, o texto escrito por meu saudoso irmão Artur Oscar, e que serviu para sua palestra em solenidade realizada na UFS, em julho de 1971:








E para encerrar, expresso aqui minha alegria em relembrar esses acontecimentos para homenagear um baiano moço e genial, que usando a poesia, lutou bravamente contra a escravidão e na defesa da liberdade. Viva Castro Alves!

Aracaju, 04/07/2025

Beto Déda