A Festa de Nossa Senhora Sant’Ana em Simão Dias
Para muitos nordestinos dos velhos tempos, alguns meses do ano civil tinham denominações especiais, sempre relacionadas a eventos religiosos festivos. E o simãodiense não fugia a essa regra e tinha um nome distinto para o mês de julho, que passou a ser chamado de "mês de Sant'Ana", pela lembrança da época do ano que acontecia a consagrada festa em homenagem à padroeira de nossa cidade. Esta a razão pela qual sempre ouvíamos os conterrâneos, ao mencionarem um fato que aconteceu no mês de julho, costumeiramente associarem ao período da festividade da padroeira, dizendo, por exemplo: “Fulano nasceu no dia 7 do mês de Sant’Ana"; ou que "Tal caso o aconteceu no final do mês de Sant’Ana de 1962”.
Pois bem, foi no período de 17 a 26 do mês de Sant’Ana deste ano, que a cidade de Simão Dias prestou homenagem à sua Excelsa Padroeira. É nessa época do ano que a cidade se remoça ao receber conterrâneos residentes em outras localidades, tudo em um clima de muita alegria, de amizade e de fé, participando de novenário e, no dia 26, consagrado a Nossa Senhora Sant’Ana, acompanhando a procissão pelas ruas da cidade até a praça Matriz, onde é realizado o ato de encerramento.
Igreja Matriz de Simão Dias -em 19-07-2025 - Foto de vídeo no YouTube |
No referido vídeo, ao acompanhar as informações prestadas pela Professora Edjan Alencar, minha memória foi estimulada a recordar fatos dos anos 50 e 60 do século passado, quando era jovem e vivenciava os acontecimentos festivos de nossa paróquia. O fato é que, naquela época, sempre acompanhei minha tia Nice (Eunice Barbosa de Oliveira, conhecida na cidade como Nice Enfermeira) em suas participações religiosas. Ela tinha sido noviça em um Convento de Freiras, em Salvador(BA), daí a sua devoção e dedicação à Igreja de Senhora Sant'Ana: fazia parte do Apostolado da Oração e da Pia União das Filhas de Maria. Foi ela a minha grande instrutora religiosa, levando-me para as aulas de catecismo, para as novenas e as missas. Até hoje ainda me lembro, e canto, trechos de hinos sacros de então.
Semelhante ao que acontece na atualidade, também naquela época os rapazes e moças participavam contritos da “Novena dos Jovens", desfilando pelas ruas da cidade para receber e entregar o Ramo Simbólico do patrocinador da novena. Os desfiles sempre contavam com o acompanhamento da Filarmônica Lira Santana.
Nas festividades dos anos 1960 a 1964, os fiéis de Sant'Ana tiveram a alegria de contar com a participação do Padre Sebastião Drago, da Congregação do Sagrado Coração de Maria, um orador sacro que empolgava os fiéis com palavras fluentes, vibrantes, ricas de imaginação e conviventes. Ele fazia parte da Equipe de Pregadores Missionários da Casa de Belo Horizonte, e durante alguns anos participou de missões em Sergipe e Bahia. Aqui em Simão Dias, em 1953, ele acompanhou o Frei Elizeu Vieira, um estimado evangelizador da Ordem dos Carmelitas, em Santas Missões realizadas na zona rural, preparando nosso povo para o Congresso Eucarístico que aconteceu em nossa cidade ainda naquele ano. Foi sua importante participação nesses eventos que o Padre Drago se revelou para nosso povo como o "Dragão da Palavra", daí o acerto do pároco Padre Mário Reis, em convidá-lo como para participar da novenas de Sant'Ana nos anos de 1960 a 1964, como pregador oficial nos sermões das missas e das novenas.
Padre Sebastião Drago na procissão (Foto capturado da Internet) |
A atuação brilhante do orador sacro Sebastião Drago atraiu a atenção de nossa juventude, especialmente no meio dos que faziam parte da Associação de Jovens Idealistas Simãodienses (AJIS), que vibravam ao ouvi-lo e notar a inteligência e a cultura daquele pregador, expresso não só em seus sermões como também na arte da música e na pintura. Por ocasião do Congresso Eucarístico, nos atos litúrgicos, ele executava muito bem o harmônio e regia o coro de seminaristas italianos. E diziam também, não estou seguro sobre isto, que na Igreja Matriz da cidade baiana de Cícero Dantas estavam expostos dois painéis pintados por ele, retratando a Ceia de Emaús e a Assunção de Nossa Senhora.
O referido vídeo sobre nossa Paróquia também me trouxe ligeiras lembranças dos vigários do tempo que morava na terra natal. O primeiro que conheci, eu tinha aproximadamente 8 anos de idade, foi o português Padre Madeira, ele usava uma batina preta e, lembro bem, portava um pequena bolsa com moedas de centavos que presenteava às crianças quando lhe pedíamos a bênção. E não faltavam os pedidos de bênçãos!
O segundo, foi o Padre Afonso, da família Medeiros Chaves de Propriá(SE), foi o nosso pároco por ocasião do o maior acontecimento católico de nossa cidade, o Congresso Eucarístico de 1953.
Em seguida foi a vez do Padre Mário Reis, que prestou grande serviço ao nosso povo, especialmente no diz respeito à educação, foi diretor do Ginásio Carvalho Neto. Do padre Mário desperta minha memória para um fato engraçado: ele não gostava que a meninada se sentasse no batente das portas laterais da Igreja. Em uma manhã de frio, eu e meu primo José Carlos Déda, estávamos em animada conversa, sentados no batente de uma das portas laterais, que estava fechada e que fica ao lado da casa paroquial; o padre nos viu e, sorrateiramente, entrou na Igreja e lançou por baixo da porta um balde d'água, molhando nossos fundilhos. Diante de nossos protestos, ouvimos a risada estridente do nobre padre. Foi um fato inusitado ver o Padre Mário gargalhar...
O seguinte foi o Padre Aureliano Silveira, que demorou poucos anos na cidade e cuja lembrança maior foi que conquistou e levou com ele uma jovem simãodiense bonita e, dizem, com ela se casou.
Por último, foi o Padre João Barbosa, do qual guardo a melhor lembrança, porque foi ele o celebrante do meu casamento religioso.
Em 1975, por força de meu trabalho com funcionário do BNB, tive que me ausentar de Simão Dias, fui morar em outras plagas, mas, no mês de Sant'Ana, estava sempre na minha terra reverenciando nossa padroeira e reencontrando parentes e amigos. Pena que este ano uma desconfortante virose tenha me impedido de presenciar tão magnifica festa.
Restou-me como consolo os vídeos e as recordações.
Aracaju, 05/08/2025
Beto Déda
Memória de ouro, suas lembranças são históricas.
ResponderExcluirObrigado! Recordei para aliviar a minha ausência na comemoração da Festa de Sant'Ana, em minha terra natal.
ExcluirObrigado!
ResponderExcluirEsse texto é mais um documento importante sobre a história de Simão Dias. Ele deverá ser preservado juntamente com vídeo. O balde de água jogado pelo Padre e a sua gargalhada é uma cena icônica que poderá ser reproduzida por um romancista e dar vida em uma produção artística.
ResponderExcluirParabéns, meu caro.
Um abraço agradecido. A cena do balde de água foi muito comentada naquela época, KKKKKK
ExcluirParabéns, prezado Deda. Que bom ver seu sentimento pelas raízes de sua terra, algo especial para mim que também adora participar de eventos dessa natureza. Abraços
ResponderExcluirFico imensamente agradecido pelo seu comentário. Abraços pra você também.
Excluiramei muito a história, vô !! você é o melhor escritor do mundo
ResponderExcluirUm abraço pra você, minha querida neta. Deus te abençoe.
ExcluirEstimado amigo Carlos Alberto de Oliveira Déda. Você é prova viva da cepa de uma família real rica de conhecimento e sabedoria.
ResponderExcluirO seu relato histórico e religioso evidência quão profundos são o seu conhecimento e inteligência. É.uma verdadeira obra, digna de registro em outros meios de comunicação e em arquivo histórico do próprio município.
Parabéns.e forte abraço do amigo, colega e seu admirador.
Paulo Rodrigues.
Olá, meu colega e amigo Paulo, receba meu abraço agradecido por sua mensagem. Fiquei alegre e estimulado por suas palavras, especialmente por se tratar de você, um grande poeta que honra a cultura sergipana. Sempre estou relembrando suas poesias, relendo o livro "Tendas de Minh' Alma". Lembranças aos seus queridos familiares.
ExcluirEsse texto é maravilhoso. Lembrou minha mãe q sempre contando os meses do ano falava São João, Santana kkkk
ResponderExcluirUma relato vivo de amor a terra natal.Parabens Beto.
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