Relembrando o primo Wellington e tia Vina Déda.
Nesta semana minhas
recordações se voltaram para meu querido primo Wellington, que há poucos dias
passou para morada eterna, deixando-nos saudosos.
Ele era um bom amigo
desde quando éramos crianças. Realizamos muitas peraltices nos arredores da casa de
sua mãe, minha tia Vina Déda, na Rua Jairo do Prado Dantas, antigamente
conhecida como Rua da Lama, em Simão Dias.
Falar sobre Wellington sem mencionar
sua querida mãe era uma ofensa para ele.
Nos anos cinquenta, tia
Vina Déda morava naquela rua, nas proximidades da Igreja Presbiteriana. Lá, com
muita dignidade e trabalho, ela educou e cuidou de seus filhos: Alfeu, Dalva,
Wellington e Sininho. Era viúva, funcionária estadual, trabalhava no Grupo Escolar
Fausto Cardoso, não tinha posses mas, mesmo assim, nunca lhe faltou uma
exemplar riqueza espiritual expressa em ações de bondade.
Recordo-me muito bem da
expressão de humildade e solidariedade de minha tia, ao cuidar dos filhos sem
nunca negar a partilha do pão de cada dia com pessoas carentes. Dentre os que
receberam abrigo em sua modesta casa, lembro-me agora de três deles. A primeira
era uma senhora idosa, de pele branca e sardenta, um pouco corcunda e gorda,
ouvia pouco e balbuciava as palavras com dificuldade, tinha cabelos ralos,
aloirados, quase brancos, e atendia pelo apelido de “Comadre”. Outro era um
garoto gordinho de cabeça grande, prestativo, olhos grandes e espertos: possuía
uma caixa de lustrar sapatos e era chamado “Jaconias". E, por fim, lembro-me de um moço feioso e engraçado,
franzino, baixinho, com nariz grande e empinado, que usava um paletó de farda
cáqui e na cabeça um quepe azul; com tal indumentária passou a ser conhecido
como “Sargentinho”. O fato é que minha tia se sentia bem ajudando aos menos
favorecidos.
Confesso que sempre
conservei em minha mente a casa de tia Vina como verdadeiro símbolo de
humildade e solidariedade cristã.
Foi com os exemplos dados por sua mãe que Wellington aprendeu a ser um homem solidário
e justo. Ele era um cara que a gente tem a alegria de dizer que era um grande
amigo.
Com ele brinquei fazendo
cinema com uma caixinha, uma vela, lente e quadros de celulose de filmes de Durango
Kit, que nos eram dados pelo projetista João Jacó, do Cine Ipiranga. Tomamos
banho na caixa d’água do Grupo Escolar Fausto Cardoso, nadamos nos barreiros do
sítio de Seu Hilário e no poço do riacho Caiçá. Pegávamos caju e manga nas
chácaras próximas à Praça de São João, compartilhávamos das brincadeiras da
meninada da Rua dos Ribeiros e participávamos de passeios na escola do
povoado Ilhota, em que a professora era D. Zefinha, amiga de minha tia
Nice, conhecida como Nice enfermeira.
Wellington tinha um humor
formidável, sabia fazer gozação e sempre demonstrava seu estado espiritual com
um tique inesquecível, fechando um dos olhos.

Wellington no 5º Encontro da Família Déda(Foto acervo Beto Déda)
Sempre estava atento aos
parentes e foi dele a ideia dos encontros da família.
Era ele quem planejava e
dirigia as reuniões, desde a primeira, realizada no BNB-Clube de Simão Dias, em
fevereiro de 2006, e nos anos seguintes realizadas aqui em Aracaju, no sítio de meu irmão
Artur Oscar, até 12/03/2010. Para isto sempre contou com ajuda de sua esposa,
seus filhos e principalmente de Hilton Déda.
Nos trabalhos para
realização dos encontros da família, ele não media sacrifícios, nem dava bolas
para seus problemas de saúde. Quando se aproximava a data da realização,
desdobrava-se em trabalhar para que a reunião ocorresse com êxito. E todas foram
um sucesso. Fazia questão de esclarecer a importância do evento e repetia como
se fosse um slogan:
- Essa é a melhor oportunidade de se rever e conversar com os parentes
espalhados por esse imenso Brasil.
Não fosse a perseverança
e o espírito associativo dele, dificilmente aconteceriam tão badalados e
inesquecíveis encontros.
Wellington - ou Seu Déda,
como era conhecido pelos clientes de sua fábrica de toldos - foi um guerreiro
vitorioso, que enfrentou com êxito as dificuldades da vida sem perder o bom
humor. De sua mãe - tia Vina Déda - herdou o sentimento de solidariedade e amor.
Nos orgulhamos de ter
sido seu amigo e primo.
E essa é a nossa
homenagem ao grande e saudoso parente.
Aracaju, 21/11/2021
Beto Déda
Beto Déda
Linda homenagem!! 👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirUM ABRAÇO, QUERIDA FILHA DO MEU CORAÇÃO.
ExcluirMuito bom, tio Beto. Suas lembranças são magnificas e vivificam a nossa história.
ResponderExcluirAo escrever, tento reforçar as lembranças de nossa família. Um abraço para todos daí.
ExcluirMuito rico texto, repleto de detalhes e boas recordações. Fala com a voz do coração. Parabéns Seu Beto!
ResponderExcluirObrigado, Flávio. Um abraço!
ExcluirBacana tio Beto, eu gostava dele, Malu cuidou dele na clinrad, quando ele estava se tratando...lembro-me também de uma história de vcs dois e o suco de anilina.kkkk. um forte abraço
ResponderExcluirO causo do suco de anilina aconteceu com Wellington e meu irmão Carlos Eugênio. Já escrevi sobre esse caso aqui no blog. Um abraço para todos da família.
ExcluirBeto,estou emocionada com seu relato.Descreveu meu pai com grande maestria até o tique de fechar o olho.Gratidao Beto
ResponderExcluirQuerida, para mim seu pai era um primo que que eu queria bem como irmão. Admirável! Um abraço.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns Beto, você é o arquivo vivo das histórias da família DÉDA, abraços
ResponderExcluirAs lembranças fazem reviver pessoas queridas, que conosco caminharam na estrada da viva. Um abraço pra você também.
ExcluirBacana, tio Beto. Além da merecedora homenagem e das lembranças particulares, seus textos vão ampliando, com outros personagens coadjuvantes, o conhecimento da nossa querida terrinha. Sem esse texto eu jamais saberia que Sargentinho tivesse se criado com tia Vina.
ResponderExcluirAdorei seu comentário, querido Marco. Sargentinho não foi criado por tia Vina, mas ela o ajudou por um bom período.
ExcluirBetão, vc é "CARA" sou eternamente grato a vc, ele falava muito das brincadeiras de infância com vc
ResponderExcluirUm abraço, meu caro Álvaro. Seu pai era um primo-irmão mesmo. Sempre que me encontrava com ele as lembranças se renovavam. E ríamos muito ao relembrar a brincadeiras dos velhos tempos. Aqui no meu blog eu escrevi vários causos engraçados que vivemos na infância.
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