sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 

Um tempinho para você...


Como ninguém é de ferro – nem eu, que sou sentimental – hoje volto a pensar em você. E quando isto acontece, a saudade dos velhos tempos bate em meu ombro e não ouso olvidá-la.

Nesse instante, curtindo essa saudade dos bons tempos de nossa juventude em Simão Dias, vejo-me flertando e sorrindo de felicidade ao trocarmos frases românticas tiradas de almanaques da época. Curtíamos a simplicidade e inocência de adolescentes do interior.

Assim, envolto no manto das recordações, revejo as tardes de verão, quando sentávamos em cadeiras cobertas com almofadas coloridas e, fascinados, ouvíamos o cantar das cigarras e a beleza da revoada das andorinhas.

Como eram maravilhosos e esperados os encontros nos dias de domingo: matinês nos cinemas Ipiranga e Brasil; tardes dançantes no Caiçara Clube; as missas aos domingos e os passeios em volta da Igreja Matriz...

E não faltavam também as festinhas de aniversário em casas de família, com encontros nas salas de visitas, reservadas nessas ocasiões para rapazes e moças dançarem ao som de canções da Jovem Guarda – sem esquecer os embalos do Twist e do Rock and Holl de Tony e Cely Capello, e também as músicas românticas de Altemar Dutra –, tudo em discos Long Play tocados em radiolas embutidas em bonitos móveis da época.

No Cayçara Clube participávamos dos tradicionais bailes de Carnaval, de São João e da Festa da Padroeira Santana; além de apresentações de importantes orquestras em turnê pela região e, também, de festas beneficentes, das quais lembro-me agora de duas, organizadas por D. Carmem Dantas: “Uma noite no Havaí” e “Festa da Primavera”.

Os encontros culturais eram realizados quase que semanalmente, em uma casa vizinha ao sobrado de Seu Janjão, em reuniões promovidas pela AJIS (ASSOCIAÇÃO DE JOVENS IDEALISTAS SIMÃODIENSES), que contava com a participação ativa de moços intelectuais da terra, e que promovia Semanas Culturais no Cayçara Clube.

As lembranças embalam minha mente e me fazem matutar: porque você fica entediada ao ouvir tão alegres recordações?

Ah, como gostaria que me escutasse! E se alegrasse com as repetidas histórias que insisto em contar. Ficaria imensamente feliz ao ouvir com atenção suas observações e compartilharmos as lembranças de pessoas queridas, que participaram de nossas travessuras em acontecimentos alegres e marcantes da vida em nossa terra berço. Assim, eu saberia como você tem resistido a ausência do cantar das cigarras e o desaparecimento das esvoaçantes andorinhas.

Você sabia que as lembranças nos ajudam a enfrentar as marcas do tempo?

Não podemos esquecer a expressão latina “Tempus fugit”, que tem o sentido de que o tempo irreversivelmente passa, foge, voa. E ao passar, deixa muitas marcas, enfraquecendo-nos, realizando mudanças sem, contudo, alterar os sentimentos fortes que permanecem em nosso interior.

Então, pensando em você, vejo que o passar do tempo deixou marcas – mesmo que levemente – em seu lindo e querido rosto, mas tenho absoluta certeza que continuam em seu coração, incólumes: a bondade e a meiguice.

O exercício de felizes recordações nos dão força para enfrentar a insuportável amargura dos dias atuais. As notícias tristes são cumulativas e recorrentes: a pandemia, a perda de familiares e amigos; a perversidade de um presidente que fomenta o ódio e o uso de armas; a violência escancarada divulgada nos noticiários; e a amargura do nosso povo que voltou a sofrer com o desemprego e a fome.

Diante de um quadro tão horrendo – mesmo sem ignorá-lo e apoiando os que tentam nos livrar de tão danosa realidade – acredito que as lembranças de momentos felizes amenizarão tais dissabores, aproveitando cada dia, despreocupando-nos com o passar implacável do tempo em nossa descida na ladeira da vida.

Por fim, para não esquecer os momentos que trocávamos frases tiradas de velhos almanaques, veja esse pensamento de Mario Quintana:

Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a nossa inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas, um grande motivo para ser feliz!”


Aracaju, 17/12/2021

BETO DÉDA





2 comentários:

  1. Parabéns, tio Beto, pela sensibilidade de portar para este lindo texto tão fortes sentimentos e emoções. No romantismo dessas linhas você não apenas reviveu, mas nos fez também assistir trechos de um filme lindo que ilustra um pedaço importante da sua história de vida com a querida Leninha.

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  2. Obrigado, Marco. Um abraço e apareça para ativarmos boas lembranças.

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