O
velho telefone do Aloque.
Nesta semana tomei
conhecimento de que uma pessoa querida foi vítima de um motoqueiro delinquente
que roubou seu telefone móvel celular.
Atualmente o celular passou a ter
uso generalizado e os bandidos, diante da impunidade, deslizaram do furto para
o roubo, ou seja, passaram – descaradamente e usando grave ameaça ou violência
a pessoa – a subtrair coisa móvel alheia, para sí ou para outrem.
A lamentável notícia me fez
pensar nas mudanças tecnológicas que ocorreram nestes últimos sessenta
anos.
Para os jovens de hoje – acostumados
com a velocidade da informação via internet, utilizando o telefone celular, os
modernos tablets e usufruindo uma imensa variedade de aparelhos sofisticados –
difícil é imaginar como era diferente o nosso tempo de criança, em Simão Dias,
no início dos anos 50.
Observando e usufruindo o
conjunto de formidáveis mudanças, os setentões, como eu, não perdemos a
oportunidade de lembrar como as coisas aconteciam em nossa infância.
Recordo-me que naquela época,
em minha cidade, cozinhava-se exclusivamente em fogão de lenha; o uso de
geladeira era limitadíssimo (aliás, só existia uma na casa de Dr. Aguiar e,
parece-me, funcionava na base de querosene). No bar do Valério tinha uma câmara
frigorífica, com salmoura, para fazer picolé e gelar refresco.
Era o tempo em que os
estudantes das primeiras letras usavam lousa e lápis de pedra e os mais
adiantados usavam pena e tinteiro.
A energia elétrica era rara, o
uso mesmo era do candeeiro, da placa (tipo de lampião) ou da pretomax. A
energia gerada pela usina de Paulo Afonso foi instalada em nossa cidade no ano
de 1964.
Poucos automóveis trafegavam
pelas ruas: o jipe de Dr. Salustino e o do Des. Gervásio, o caminhão, tipo
pau-de-arara, de Antônio Barbadinho, que levava o pessoal para pegar o trem em
Salgado, e o caminhão de carga chamado “luxinho” de Seu Joaquim Sotero.
O automóvel de aluguel era uma
“fobica”, também conhecida como “ford bigode”, de Manuel Ventinha, um senhor
narigudo que morava em frente
ADS(Associação Desportiva Simão-diense), clube que anos depois passou a
ser chamado de Caiçara Clube.
Naquela época não existia
linha telefônica na cidade. Mas me lembro de que o tio Paulo Déda inovou,
colocando um telefone de linha fixa entre o Aloque e a Sapataria. Era um
telefone de parede, daqueles que se usava uma manivela pra fazer a chamada.
Naquele tempo, estimulados pela
novidade do tio Paulo, brincávamos de telefone usando caixas de fósforo (parte
em que ficam os palitos) interligadas por um pedaço de linha. Era uma
experiência rudimentar de acústica e propagação de ondas sonoras, utilizando o
principio adotado pelo italiano Antonio Meucci (reconhecido pelo Congresso dos
Estados Unidos, em 2002, como o verdadeiro inventor do telefone, que antes
acreditávamos ter sido inventado pelo escocês Graham Bell).
Era uma brincadeira comum dos garotos da
época. O cuidado era esticar a linha de modo a facilitar a propagação do
som. Um garoto falava próximo à caixa de fósforos, enquanto o outro colava a
outra caixa ao ouvido.
Foi justo em uma dessas brincadeiras que derrotei,
com socos, um guri alto, chamado Zelito, que costumava me bater. Estava na
Praça de São João brincando de telefone com o amigo Simão, quando apareceu o
Zelito e quebrou a linha. Enfurecido e descontrolado esmurrei de tal forma o fanfarrão
que, depois dessa, ele nunca mais me importunou. E esse fato ficou gravado em minha
memória como o dia da desforra.
...

Quando alguém ligava o telefone e indagava:
- Alô!
Quem está na linha?
O tio Paulo, com seu humor inconfundível, respondia:
- O trem... O anzol... A
agulha...
E complementava:
- Você que está no
“aparelho”: lembre-se de dar descarga depois de usá-lo...
E ria à beça
E ria à beça
Aracaju, 03/08/2015
Beto
Déda
Nenhum comentário:
Postar um comentário