“A PIADA DA SEMANA”
Na última
sexta-feira tive a grata satisfação de relembrar os bons tempos que trabalhei editando
um jornal com meu pai. Foi em conversa com minha filha Carla e o genro Flávio,
logo depois de um jantar no apartamento deles. Não é demais dizer, aqui, a
minha alegria ao perceber em suas expressões o interesse e curiosidade pelos
fatos que narrava.
De modo que,
repasso para eles, e também para os que se interessam pela imprensa de nossa
terra, as lembranças das xilogravuras feitas por meu pai e publicadas no jornal
“A SEMANA”, por ele editado em Simão Dias, no período de 1946 a 1969. Foi o
primeiro jornal em Sergipe a publicar uma seção de charges.
Naquela época, para
impressão de imagens em jornais, as fotos eram gravadas em relevo sobre zinco.
Tais chapas para impressão eram denominadas clichês. A gravação de fotografia
em clichê era realizada em Aracaju, em um laboratório que ficava na Rua 7 de
Setembro ou Vitória Torta e, anos depois, nas oficinas da Gazeta de Sergipe, do
saudoso Orlando Dantas. Muitas vezes eu fui àquelas oficinas com fotos para
gravação em clichês.
De ver-se que tal
gravação não só demandava tempo como também era dispendiosa ($$$$$$).
Essas duas
importantes dificuldades estimulam a criatividade. E foi assim que meu bom pai
(José de Carvalho Déda) resolveu dedicar parte do seu passatempo em fazer
xilogravuras.
O meu velho era
folclorista, gostava de folhetos da literatura de cordel, e foi nas capas
desses folhetos que ele conheceu a xilogravura: técnica de entalhar na madeira
a figura que se pretende reproduzir.
Nos idos de 1959,
em seu ostracismo político, depois de atuar por doze anos (1947/1958) como
Deputado Estadual, meu pai aproveitava seus intervalos nas lides advocatícias
fazendo xilogravuras para ilustrar o jornal “A Semana”, por ele editado.
Para realizar o
intento, ele já contava com a habilidade no uso de estilete, adquirida quando
ainda era jovem, no corte de moldes de pelica para fabricação de sapatos.
Mandou cortar pedaços de madeira (peroba rosa) com espessura igual ao da altura
dos caracteres tipográficos, e, em maio de 1959, iniciou suas xilogravuras.
Com muita
imaginação e humor ele desenhava a figura na prancha de madeira e,
pacientemente, usando um estilete, desbastava a tábua, deixando gravados, em
relevo, apenas os traços da caricatura.
Com essa técnica,
seu Zeca Déda, como era conhecido em Simão Dias, fez mais de quatrocentas
xilogravuras, publicadas no jornal “A SEMANA”.
As caricaturas
satirizavam fatos políticos de repercussão local, estadual ou nacional e foram
publicadas em uma seção denominada “A Piada da Semana”.
São antológicas as
charges sobre a alta de preços, a falta de iluminação na cidade, a votação de
cacareco e do bode cheiroso, as disputas eleitorais, caso diplomático entre
Brasil e França (pesca da lagosta) e a força dos militares no poder.
Para aperfeiçoar seus cartuns, inventou um processo artesanal de
impressão em três cores e publicou por um período as charges coloridas.
Também desenhou perfis de personalidades políticas e militares para
ilustrar as notícias publicadas.
Mesmo depois do falecimento do saudoso chargista, ocorrida em 02 de
setembro de 1968, o jornal “A SEMANA”, sob nossa direção, continuou com a seção
“Piada da Semana”, republicando algumas de suas charges, registrando o
pseudônimo (Zelis), por ele escolhido e expresso às vésperas de nos deixar.
Lamentavelmente, perdeu-se com o passar dos tempos
as pranchas de madeira (xilogravuras) originais, que o seu autor denominava de
”clichês artesanais”.
Não obstante a perda das pranchas originais, evoquei
a lição de criatividade do meu pai para preencher a falta. Então, com
paciência, fotografei e guardo em arquivo virtual todas as xilogravuras feitas
por ele e publicadas no jornal.
Assim é que, nesta oportunidade, apresento aos amigos
que gostam de boas lembranças uma pequenina parte do meu acervo.
Aracaju,
29/02/2016
BETO
DÉDA
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