A
história “penosa” da fazenda Vuku.
Meu tio Paulo tinha um
repertório imenso de histórias picantes para as quais dava o nome de “penosas”.
Recentemente tomei conhecimento de uma que não fazia parte dos meus arquivos. Trata-se
da história de um bem sucedido comerciante que pretendia comprar a fazenda
denominada “Vuku”, localizada em Simão Dias, próxima aos limites com a Bahia.
Esta “penosa” foi narrada por meu saudoso tio ao seu neto preferido, o primo
Hylton Déda, que me repassou.
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Tio Paulo narrando para o neto Hylton a história da fazenda "Vuku" |
Dizia meu tio que nos
tempos das vacas gordas, ou seja, nos tempos de boas safras e bons negócios, conheceu um
comerciante conterrâneo, seu xará (de nome Paulo, popularmente conhecido como Palo), que conseguiu juntar
algum dinheiro, superando folgadamente o que necessitava para o capital de
giro do comércio. Resolveu aplicar tal sobra de recursos na aquisição de uma
fazenda. Aos domingos, andava pelo interior à procura de um imóvel rural que
atendesse seus interesses como pretenso agropecuarista.
Depois de ocupar-se
durante três domingos em busca cuidadosa, finalmente encontrou uma que lhe
enchia os olhos. Ao saber o preço, o comerciante percorreu as instalações e os pastos do imóvel,
pegou um pouco da terra, cheirou e soltou no ar, exclamando para o vendedor:
–
Estou interessado. Mas tenho que combinar com a minha mulher.
Quando retornou a sua casa
o comerciante apressou-se em contar para sua esposa que tinha encontrado a
fazenda de seus sonhos: boa terra, pastagens verdes, um riacho perene e uma
colina com um pomar perto das instalações (curral, casas para vaqueiros e uma
bonita casa sede). A mulher compartilhou o entusiasmo do futuro fazendeiro. E
antes que ele se dirigisse para o banho restaurador das forças, ela indagou qual era o nome da bendita fazenda. Então ele respondeu
emocionado:
–
É a fazenda denominada Vuku, próxima dos limites com o município de Coité.
Terra de primeira qualidade!
A simpática senhora ficou matutando enquanto o
comerciante tomava o refrescante banho. Pouco depois, quando ele surgiu na
sala, enrolado em uma toalha, a mulher exclamou, demonstrando preocupação:
– Meu querido marido, essa propriedade
vai nos dar uma dor de cabeça sem limites. Acho que não vamos comprar. Não e
não!
E ele, tomando susto com a tristeza da esposa, quase soltando a toalha que encobria as partes pudendas, indagou:
– Que aconteceu, minha Florzinha? Qual o problema?
A resposta já estava na
ponta da língua:
– Ora, meu querido, aqui na nossa terra é
comum ligarem o nome do dono à fazenda. Note você os nomes dos fazendeiros
daqui: Dr. João do “Mercador”, Martinho do “Pau de Leite”, Jonas do “Pau
Miúdo”, Joãozinho da “Bruaca”, Pedro do “Pau Grande”, Manoel do “Galho
Cortado”, Antônio do “Fundão”, Zequinha do “Pau Preto” etc..
E arrematou:
– Agora, meu marido, pense quando você comprar
a tal fazenda. Aí eu tenho absoluta certeza que vão
passar a lhe chamar de “PALO DA-VU-KU”...
E o sonho do simpático
casal foi desfeito diante do poderoso efeito de uma “penosa” cacofonia.
Aracaju, 12/09/2016
BETO DÉDA
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