segunda-feira, 28 de novembro de 2016

CONVERSANDO COM O AMIGO FLORIANO.

No final dos anos 80 tive a oportunidade de filmar conversas com bons amigos em Simão Dias.  E fazia isto sempre nos dias de folga de meus trabalhos na Agência do Banco do Nordeste em Aracaju. Esta é a razão pela qual as filmagens sempre foram realizadas nos dias de sábado ou de domingo.

Dentre os vídeos que fiz, alguns deles aconteceram no Bar de Floriano. Há dias que prometi ao Thiago Nascimento postar um vídeo em que entrevistei seu saudoso pai. Cumpro hoje a promessa. 
Floriano Nascimento  (Foto Beto Déda)

O Bar do Floriano sempre foi o ponto de encontro dos jovens de minha terra e foi lá que eu fiz várias tomadas de vídeo, conversando com ele e colhendo informações sobre fatos históricos locais, que convivemos no passado recente. 






Floriano falando sobre o tempo da ADS (Foto Beto Déda)
Conheci Floriano quando ele era locutor de um dos serviços de alto-falantes da cidade. Eu era garoto e de vez em quando ia aos estúdios das transmissoras para dedicar músicas às minhas primeiras e pretensas namoradas. Quando não tinha o dinheiro para pagar a oferta da música, fazia um bilhete com a dedicatória e, cuidadosamente, passava às mãos do Floriano, que compreensivamente balançava a cabeça, piscava o olho, e mandava ver, ou melhor, mandava escutar seu vozeirão no serviço de alto-falantes: “Do garoto Beto para sua namorada da Rua dos Ribeiros vai essa bonita canção...” e fazia rolar um disco com sucesso da época.

Anúncio no jornal A Semana da Casa Nascimento 
Tempos depois, quando passei a trabalhar na Agência do BNB em Simão Dias, o ponto de encontro dos jovens, era na antiga Casa Nascimento, conhecida como o “Bar de Floriano”, que ficava na esquina das Ruas Quintino Bocaiuva com Felisberto Prata, nas proximidades do antigo Cine Ypiranga. Ali não faltava um gostoso caranguejo e a cerveja geladíssima.

Tempos depois ele transferiu seu comércio para Rua do Coité, na parte do terreno do quintal da casa do seu pai, Sr. Alexandre Nascimento,  cuja frente situava-se na Praça Barão de Santa Rosa. A inauguração do Bar e Lanchonete foi festiva e o local passou a ser o ponto chique da cidade.

Floriano fala do tempo da boemia.
Foi juntamente naquele Bar que eu ouvia o Floriano recordar os acontecimentos dos anos cinquenta. Foi ali que gravei uma longa conversa com ele, ocasião em que relembrou os tempos áureos dos serviços de alto-falantes de nossa terra. Naquela época existiam dois serviços de alto-falantes na cidade: a Tupy (dirigida por Demerval Guerra e Almir, filho de Seu Sinésio Fontes) e a ADS – Associação Desportiva Simãodiense (pertencente a José Dórea Almeida - Dorinha).

Embora antagonistas, os dirigentes das transmissoras firmaram um pacto regulando o horário que cada uma iria ao ar, durante a noite, respeitando-se o tempo oficial da "Hora do Brasil": uma transmitia os serviços das 18:00 até às 19:00 horas, e a outra das 20:00 até às 21:00 horas.

Os alto-falantes tinham uma forte audiência em nossa cidade. À noite, as pessoas sentavam às portas das casas para ouvir músicas, as dedicatórias dos namorados, as crônicas escritas por meu pai, por tio Sininho e por funcionários do Banco do Brasil. Contou-me Floriano que durante algum tempo as transmissões locais eram ouvidas pelos rádios, produto de uma adaptação feita em ondas curtas pelo técnico Gamaliel dos Santos. Não durou muito tempo porque prejudicava a audição de estações radiofônicas normais. Outro fato interessante foi um caso em que uma pessoa deu tiros em um alto-falante, tentando parar. Não surtiu o efeito desejado, mas houve um longo disse me disse na cidade, envolvendo política. Mas foi coisa passageira, sem maiores consequências.

Tempos depois, como soe acontecer nas cidades de interior, as rivalidades políticas deram um nó, empacotando e soterrando os alto-falantes da Tupy e da ADS. Restaram apenas os serviços de som dos cinemas: que permaneceram enquanto duraram os Cines Ipiranga e Brasil, este último com a voz inconfundível do locutor e projetista João de Jacó, que sempre anunciava os filmes para os “habitués da sala com tela cinemascópica” do Cine Brasil.

Infelizmente, na transformação de VHS pra DVD, perdi parte do vídeo. O que restou, entretanto, apresenta interessante interpretação de quem viveu passagens da história de nossa terra entre o final dos anos quarenta e durante os anos cinquenta.

Repasso o que restou do vídeo para conhecimento dos familiares e conterrâneos. E o faço prestando-lhes uma carinhosa homenagem.

Aracaju, 28.11.2016


BETO DÉDA 

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