segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Os refrescos de tamarindo e de jenipapo.

Neste momento minha memória se volta para os tempos dos cachos amarelos das acácias existentes na Praça de São João e, também, no bangalô de Seu Pierre, na Rua dos Ribeiros.

As flores amarelas das acácias indicavam o mês de dezembro e a proximidade do Natal. Significavam também que a diversão estava por começar na antiga Rua da Feira, local onde se concentravam as barracas de guloseimas e os brinquedos para crianças (carrossel, balanços com  barcos e ondas).

Era o tempo de colher os tamarindos bem amadurecidos, denominados “chocós”, devido a cor semelhante ao chocolate, para transformá-los em azedinhos refrescos (também conhecidos como “ponches”). Naquela época, desconhecíamos os aparelhos modernos para realização de tarefas simples, como o liquidificador. Os tamarindos eram descascados e depois esmagados em uma peneira de pindoba, para em seguida diluir em água do pote ou da moringa, com razoável quantidade de açúcar para transformá-los em saborosos refrescos.  Uma delícia que, ao nos lembrar do gosto “azedinho”, deixa-nos com água na boca.

Também era a estação dos jenipapos. Bem maduros, com cheiro ativo. Para fazer os ponches ou jenipapada o trabalho era maior: tirávamos a pele enrugada e as sementes, deixando apenas a polpa, que, com uma faca tipo peixeira, era triturada em uma tábua. Batíamos a faca em ritmo, cortando a fruta em pedacinhos e, lembrando o nome, cantávamos uma canção que tinha o seguinte estribilho:

             “JENI, JENI, passou por aqui e fez PAPU...”

O trabalho de fazer o refresco ficava com minhas irmãs, que misturavam os pedacinhos da fruta com água fria e açúcar. Estava pronto o refresco.

Os dois sucos eram consumidos na ceia de Natal, onde não faltavam o arroz de galinha, os confeitos de castanhas e os jenipapos cristalizados (a polpa da fruta era cortada e as fatias, untadas de açúcar, postas ao sol para secar).

Estes eram os refrescos servidos em casa. Mas na festa de largo, na rua da feira, o bom mesmo era o guaraná da barraca do Mudo ou a de Zé Pretinho. Fabricado por eles e que tinha o nome de “AMOROSA”, acondicionada em barris e vendidas aos copos pelo preço de quinhentos réis (uma moeda com a efígie de Getúlio Vargas). O Zé Pretinho tinha um método formidável de anunciar seu refresco, gritando em som estridente que se ouvia ao longe:

- Aqui está a melhor "amorosa"! É cheia... é cheia e só paga quinhentos réis...

E tinha também os refrescos fabricados com extratos de maçãs pelo primo Wellington, com o adjutório do irmão Carlos Eugênio, os quais, em suas traquinagens, semelhantes ao Chaves da TV mexicana, vendiam em frente à feira dos cavalos, próximo ao Aloque de tio Paulo.

São lembranças dos dias que antecipavam as festas natalinas de Simão Dias. Os sabores dos refrescos, dos doces e do arroz de galinha, a exuberância das árvores da Praça de São João, a expectativa das festas natalinas e o início das férias escolares eram fatos animadores que transformavam dezembro em um dos meses mais queridos de nossa infância.

E até hoje, para mim, tem sido o mês de grandes e inesquecíveis recordações.

Mas, também, continua sendo o mês de realizações. É o tempo de preparação para o Natal que se avizinha. Tempo de realizar todo o esforço para alegrar os filhos, os netos e as criancinhas da vizinhança do Lago Dourado e compartilhar a alegria deles, rememorando o nascimento do nosso Redentor.

Preparemo-nos para o Natal e que a alegria tome conta de nossos sentimentos.

ARACAJU, 19/12/2016

BETO DÉDA

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