Lembrando Dr. Célio Loureiro: “As aparências enganam”...
Ultimamente ando mancando: com um pé na chinela de dedo e outo no sapato. Uma vizinha me indagou: "Perdeu um sapato ou está economizado?". Nem uma coisa, nem outra, respondi. Caí e torci
o pé.
Ainda em recuperação, resolvi dar uma volta lá pelas bandas Mosqueiro. Fui atacado por centenas de muriçocas. Pinicaram meu corpo até por cima de minhas roupas. A camisa de malha e as meias de algodão não impediram a ferocidade das picadas dos mosquitos. Resultado: passei a ter intermitentes ataques de coceira decorrentes de alergia. Uma comichão terrível que me irrita e deixa o corpo pintado. Tive que recorrer por duas vezes a uma clínica para debelar os efeitos alérgicos. Ainda não estou curado; nem da torção do pé, nem da coceira.
Ainda em recuperação, resolvi dar uma volta lá pelas bandas Mosqueiro. Fui atacado por centenas de muriçocas. Pinicaram meu corpo até por cima de minhas roupas. A camisa de malha e as meias de algodão não impediram a ferocidade das picadas dos mosquitos. Resultado: passei a ter intermitentes ataques de coceira decorrentes de alergia. Uma comichão terrível que me irrita e deixa o corpo pintado. Tive que recorrer por duas vezes a uma clínica para debelar os efeitos alérgicos. Ainda não estou curado; nem da torção do pé, nem da coceira.
Enquanto permaneço em
casa, fico analisando velhos
documentos e fotografias. E me divirto ao rever os arquivos. Observadores íntimos afirmam que sou um
acumulador de documentos. Guardo velhos
papéis que retratam passos de minha vida e de meus ancestrais. Daí o amigo
Odilon Machado dizer que pareço um cavaleiro medieval, com aquelas armaduras, guardador
das relíquias da família. Pois que seja! É de minha natureza manter tais recordações e, quando sobra um tempinho, perscrutá-las.
Assim é que, remexendo meus
arquivos, deparei-me com antigas charges publicadas pelo humorista Carlos
Estevão na revista “O Cruzeiro”, em uma seção com o título “As aparências
enganam”, na qual demonstrava as interpretações falsas provocadas por uma visão
sombria dos fatos. Então apresentava dois desenhos de um mesmo fato, um com
silhuetas e outro sem sombras, de modo evidenciar que as aparências enganavam. Um bom
exemplo é a charge que retrata uma alegre festa de aniversário: quando
evidenciada em sombras, as silhuetas nos levam ao erro de interpretar a cena
como um fato sinistro; e em sentido contrário, a mesma cena sob o brilho das
luzes mostra que não passa de uma divertida festa.
As aparências enganam - Carlos Estevão:
As aparências enganam - Carlos Estevão:
Ao continuar revendo
meus arquivos, encontrei um Boletim de Notícias do BNB em que apareço em uma
foto no encerramento do X Curso de Administradores de Agências patrocinado pelo
Banco do Nordeste, em 1969. Com tal jornalzinho estavam arquivadas minhas
provas daquele curso.
Pois bem, em suas aulas
de Direito Bancário, Dr. Célio costumava nos orientar a não esquecer que as aparências
enganam e aproveitava o ensejo para lembrar de que as regras gerais sempre
apresentam exceções.
Recordo-me que, certa
vez, em sala de aula, um colega estava analisando um problema e concluiu pela
subsunção do fato a um artigo de lei. Com seu gesto característico de esfregar calmamente as mãos, o Dr. Célio sugeriu cautela na conclusão, afirmando que
a citação do dispositivo legal estava correta, mas “em termos”, ou seja, guardada as devidas proporções. Enfático, ele
recomendava evitarmos nos curvar apressadamente às aparências, porque elas
enganam. E com maestria apresentava exemplos esclarecedores de exceções à rega
geral. O que me fazia lembrar dos provérbios populares, tão a gosto do meu saudoso pai: “Nem tudo que reluz é ouro” ou “Nem tudo que balança
cai”.
Nunca esqueci o elogio
que o Dr. Célio me fez na última aula daquele curso. Ao entregar minha prova, olhou-me
com seu sorriso peculiar – surpreso com o resultado, diante de minha discreta,
quase imperceptível presença no decorrer das aulas – e afirmou:
- Você, hem, caladinho e
calmo no seu lugar, mas danado sabendo das coisas. E entregando-me a prova que
rubricou a nota máxima, concluiu: As aparências enganam; parabéns!.
Na verdade, quem mereceu parabéns foi o ilustre professor. Embora minha aparência sugerisse alheamento ou falta de atenção aos ensinamentos do mestre, isto não correspondia a realidade. As aparências enganavam. Eu estava atento e o meu
silêncio era indicativo de que suas explanações não deixavam dúvidas. O mérito era dele que, com competência, sabia ensinar.
No encerramento daquele curso, o competente professor foi merecidamente agraciado pelos alunos com uma placa de prata.
Depois de relembrar
estes fatos, tomei conhecimento - com muito pesar - que o
venerável Professor Célio Loureiro já não está em nosso convívio. Desde o final
de abril deste ano, quando já contava com 88 anos de idade, ele passou para a dimensão celeste, deixando saudades.
O ilustre professor
revive em nossas lembranças e, aqui, presto-lhe minha sincera e humilde homenagem.
Aracaju, 02/07/2017
Beto Déda
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