O
VERÃO, AS TROVOADAS E AS LEMBRANÇAS DA BOA TERRA...
Como o amigo
de tio Paulo se meteu em uma saia justa...
Trovoadas e ventos
fortes aconteceram recentemente em nosso Sergipe. Por intermédio da amiga Prof.ª
Amanda Santos e de meu querido sobrinho César tomei conhecimento que choveu a
cântaros em Simão Dias e que algumas ruas foram alagadas.
As chuvas de verão me
trazem recordações dos meus tempos de criança e das brincadeiras com a meninada
da Praça de São João.
A revoada das tanajuras era motivo de encanto da
gurizada. Caçávamos e selecionávamos as grandes formigas em latinhas de
sardinha, cantando uma modinha muito apropriada, com o seguinte estribilho:
“Cai, cai tanajura, na panela de gordura...”
Aproveitávamos tudo
para reforçar a diversão. As pequenas correntezas d’água eram interrompidas com
bolos de lama, formando diminutas represas, onde impulsionávamos mini-balsas
formadas com gravetos de tamarindeiros e folhas de eucalipto. A terra úmida pela chuva era fértil em
iscas para pescar; e fazíamos a colheita cavando os locais em que surgia um
montinho de terra preta e molhada, onde as minhocas procuravam suspiro
(dizíamos que era o local que as minhocas cagavam).
Desfrutávamos os frescos
pingos de chuva correndo nas sarjetas e espanando água nos colegas.
E quando penso na
correnteza d’água nas sarjetas, vem logo em minha mente a figura de Tabaquinha,
uma conhecida e pobre louca da cidade, que aproveitava a fartura de água
corrente e, ali mesmo, no meio da rua, sob os apupos da garotada, levantava o
encardido vestido e lavava as partes fracas...
As trovoadas em minha
terra sempre significaram o aproveitamento da água da chuva dos telhados, que
era guiada por bicas para grandes vasos de barro, chamados de porrões. Nos dias
de trovoadas, com a abundância d’água, também era costume encher as caixas dos
banheiros.
E assim, no campo
fértil das recordações das trovoadas, minha mente é despertada por um causo que
me foi contado por meu talentoso tio Paulo. É mais uma das centenas histórias
“penosas” do meu inesquecível tio.
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Foto de uma das minhas entrevistas com tio Paulo(1989). |
Dizia ele que tinha um
amigo e colega conhecido como Madeirinha, que era comerciante em nossa terra e
reconhecido por seu excelente humor. Em um dia de trovoada, ele resolvera
aproveitar as águas da chuva e encher a caixa do banheiro de sua casa.
Ele estava na loja com
sua esposa e, notando o início da chuva, anunciou que iria até sua residência para
encher os porrões e a caixa do banheiro. Concordando com a ideia, a gentil
senhora sugeriu que a mocinha, sua secretária, o acompanhasse para ajudá-lo na
tarefa.
A mocinha, conhecida na
intimidade como Sayaiá, tinha cabelos curtos e meio aloirados; baixinha e
recheada, com coxas aprumadas e pernas curtas; seus olhos eram verdes e bonitos,
ligeiramente estrábicos (detalhe que na mocidade é um charme). Não era uma encantadora miss, mas também não era de se deixar de ver e admirar...
Pois bem. Os dois foram aproveitar a grandeza da chuva.
Pois bem. Os dois foram aproveitar a grandeza da chuva.
O comerciante passava o balde
com água para Sayaiá que, em cima da escada, enchia a caixa do banheiro.
Depois de alguns
baldes, o vestido da garota ficou encharcado, colando ao corpo, emoldurando o busto,
mostrando os graciosos e pontudos seios e o encanto das coxas roliças e alvas.
O homem, embaixo da escada,
admirava o espetáculo, mordendo os beiços.
Após encher a caixa, o Madeirinha
não se conteve e sugeriu com a voz meio anasalada que necessitavam tomar um
banho. Ele e ela. Os dois juntos.
Então, com um sorriso
malandro e insinuante foi direto ao ponto:
-
Eu ajudando você, como fizemos ao encher a caixa. Mas no nosso banho não vacilarei
em lhe esfregar... Suas costas e coisa e tal...
A moça não deu ouvidos
e desconversou:
-
Eu? Quero o quê... Nem vem com essa! Cruz credo!
Receoso, o Madeirinha
se recompôs e a moça saiu.
À noite, na hora do
jantar, a mulher do comerciante tomou conhecimento do sucesso no trabalho de
aproveitar as águas e sugeriu que Sayaiá tomasse banho.
A inocente baixinha respondeu:
-
Vou não...Hoje de tarde seu Madeirinha ficou tão contente com minha ajuda e até
me chamou pra tomar banho como ele, para
inaugurar o novo chuveiro. Não concordei e disse que a inauguração era reserva
especial da senhora. Fiz bem, né?
A respeitável senhora
passou aquele olhar severo e reparador para o marido.
O fogoso comerciante, com
um sorriso maroto, tentou disfarçar a saia justa dizendo, antes de sair de fininho da sala:
-
Realmente eu sugeri que ela tomasse banho, porque ela parece que é portuguesa:
não gosta disso...
E meu tio encerrava a história
penosa, exclamando:
-
Madeirinha era peia! – e ria muito, ajeitando os óculos no
rosto redondo e fechando os olhos como a se lembrar de tudo.
...
Quando me lembro deste
causo, na qualidade de fã de carteirinha do meu saudoso tio, eu também não deixo de proclamar:
-Tio
Paulo era o tal!
Aracaju,
20 de abril de 2019.
Beto
Déda
Seu Beto, e suas grandes histórias!
ResponderExcluirUm abraço pra Amanda.
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