quarta-feira, 5 de junho de 2019


A Ladeira de Roque.

Na última postagem, apresentei uma foto atual da antiga Rua de Lagarto, que nos velhos tempos era conhecida como a Ladeira de Roque. O Sr. Roque Macedo, que deu o nome popular àquela rua, era um artesão que morava no final da ladeira,  próximo ao oitão da casa de Dr. Gervásio de Carvalho Prata, na Praça da Matriz.

Logo depois de postar aquela fotografia, lembrei-me de uma tela pintada pelo artista sergipano Pedro Silva, datado de 1984, em que mostra uma paisagem antiga de Simão Dias: o antigo muro da residência do Cel. João Pinto, pai do Sr. Nelson Pinto de Mendonça, o início da Ladeira de Roque e, ao fundo, as centenárias palmeiras ladeando a torre da Igreja Matriz.

Quadro do pintor Pedro Silva - 1984 - Paisagem de Simão Dias:- início da Ladeira de Roque e a torre da Igreja Matriz.

Referido quadro, que orna a sala de visitas de minha casa,  foi-me presenteado pelo meu querido e saudoso irmão Artur Oscar. Assim, tenho uma admiração dupla desta bonita tela: o talento do artista sergipano  na  paisagem pintada e a lembrança de meu querido irmão.


Ainda sobre a Ladeira de Roque, antiga Rua de Lagarto, transcrevo a seguir um artigo escrito por meu pai no livro “SIMÃO DIAS - FRAGMENTOS DE SUA HISTÓRIA”-2ª Edição – página 175:

O PRIMEIRO AUTOMÓVEL
Escrito por Carvalho Déda

Até o ano de 1920, o que havia, em Simão Dias, de mais luxo e conforto em transporte, era a liteira, uma espécie de camarinha de madeira leve, com portas laterais e pequenos postigos de ventilação, sustentada por dois varais compridos, onde eram atrelados dois burros, um adiante e outro atrás.
Por essa época apareceu o primeiro automóvel na cidade, que foi, no Estado, a terceira a possuir esse gênero de transporte. A primazia coube a Aracaju, seguida de Estância.
A primazia, em Simão Dias, coube ao Cel. Felisberto Prata, rico e progressista comerciante da praça.
Um dia, a cidade alvoroçou-se, repentinamente, com um estranho ruído de máquina e um fonfonar contínuo. Era um automóvel “Ford”, preto, novo, de capota conversível, correndo, aos trancos e barrancos, pelo calçamento irregular das ruas.
Uma surpresa! Poucos conheciam aquela espécie de veículo. A população inteira saiu de suas casas para ver a grande novidade.
Ao lado de um chofer empertigado e enfatuado, o Cel. Felisberto Prata, eufórico, cumprimentava os curiosos com seu chapéu duro, de palhinha. Era a sua entrada triunfal na cidade, depois de uma excursão recreativa pelo sul do país.
Durante alguns meses a cidade não comentava outra coisa. Surgiu o anedotário.
Conta-se que o ferreiro Roque Feliciano Macedo, lunático, constantemente preocupado com almas do outro mundo, lobisomem, mulas sem cabeça, e outras aparições sobrenaturais, havia deixado sua produção de alhos, a secar, espalhada em frente de sua casa, na Rua de Lagarto.
Ao ouvir o estranho barulho do “Ford”, correu para acudir a seus alhos. E qual não foi a sua surpresa ao deparar-se com a máquina preta, correndo por cima dos paus e pedras, sem lenha nem água! O “Ford” fez uma curva rápida, salvando os alhos do Mestre Roque, deixando este estupefato, sem compreender a “visagem”. Olhou por cima dos óculos sujos, persignou-se e gritou:  –Tá bêba, porca dos óios de vrido! Tu qué cumê meus áios?”


Estes são fatos de minha terra, bons de recordar.

Aracaju, 05/06/2019
BETO DÉDA

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