UM HERÓI SIMÃODIENSE
Nos anos quarenta, alguns jovens
simãodienses se alistaram no Exército Brasileiro e participaram heroicamente
da Segunda Guerra Mundial, demonstrando coragem e heroísmo.
Para os que gostam de histórias de
Simão Dias e para que não esqueçam dos que lutaram contra o nazifascismo, defendendo
a democracia, repasso aqui um artigo escrito por meu pai, publicado na edição
de 09.03.1947, do jornal A Semana, em que comenta a visita do jovem JOAQUIM OLIVEIRA CRUZ, um
heroico conterrâneo, que participou ativamente da Segunda Guerra Mundial.
O pracinha Joaquim Cruz nasceu no povoado Lagoa Seca, de nosso município, e
participou com muita coragem e heroísmo da
Força Expedicionária Brasileira (FEB), no famoso “Regimento Sampaio”, que lutou
na Itália, em defesa da democracia.
Ao repassar, aqui, o artigo “Mutilado da Grande Guerra”, acredito
que estaremos renovando a homenagem feita por meu pai, em 1947, ao ilustre
simãodiense que teve participação ativa e
sofrida, lutando com coragem e heroísmo contra o nazifascismo e o preconceito dos que odiavam a democracia.
Vale a pena ler.
Aracaju, 16/09/2019
Beto Deda
...
“MUTILADO DA GRANDE GUERRA
(‘A Semana’entrevista um autêntico
herói simãodiense)
Escreveu Carvalho Déda, em 1947.
No sábado passado esteve em visita a nossa
redação, em companhia de seu irmão Gabriel Oliveira Cruz, o nosso conterrâneo
JOAQUIM OLIVEIRA CRUZ, filho do benquisto agricultor João Francisco da Cruz,
residente em Lagoa Seca, deste município.
O jovem Joaquim Cruz vem de
regressar dos Estados Unidos, onde permaneceu um ano, em tratamento de saúde
num dos melhores hospitais do mundo, por ter sido gravemente ferido na Itália. Tendo assentado praça na Bahia em 1943, como voluntário,
foi logo transferido para São Paulo, donde seguiu para o Rio de Janeiro,
embarcando dali para a Itália como parte integrante do segundo escalação da
F.E.B. que constituiu o famoso “Regimento Sampaio”.
O nosso herói, além de outros
ferimentos recebidos no fronte de batalha, teve sua perna esquerda
completamente esfacelada, sendo amputada acima do joelho. Nos Estados Unidos
foi submetido a cinco delicadas operações. Deram-lhe finalmente uma
moderníssima perna mecânica que lhe permite andar, pular e até dançar! É um
maravilhoso trabalho, produto da inteligência norte-americana.
Fizemos algumas perguntas que
nosso distinto visitante respondia sorridente.
Que tal a guerra?
-Briguei um bocado bom, antes de ser ferido.
Tomou parte da batalha de Monte
Castelo?
- Sim; com o pessoal valente do “Regimento Sampaio”, tomei parte em todos
os ataques àquela infernal posição inimiga, até que a mesma rendeu-se ante a
nossa disposição de aniquilá-la de qualquer forma. De Monte Castelo saí
incólume, mas em Belvedere e ... – aí o nosso amigo passou a mão sobre a
perna mecânica e continuou: - Vou contar:
pertencia a companhia comandada pelo bravo Capitão Iêdo, quando no dia 15 de
março tivemos ordens de fazer um reconhecimento arriscado. Avançamos. Fomos
pressentidos pelo inimigo que nos castigou ferozmente, obrigando-nos a um recuo.
Nesse recuo, debaixo de uma chuva de ferro e fogo, caímos em um campo de mina.
Um soldado que marchava ao meu lado pisou em uma mina e com a explosão da mesma
o desditoso soldado teve morte imediata. Um outro companheiro foi também ferido
e eu... Nem sei que fim levou minha perna de carne! Recebi vários
ferimentos e fui logo removido para o primeiro posto de saúde avançado, onde recebi
os primeiros curativos, sendo removido daí para o nosso Hospital do Sangue,
recuado, localizado em Pistoia; daí fui transportado para os Estados Unidos,
onde permaneci até agora, esperando que me fosse adaptada uma perna de alumínio
e concluir o treino necessário ao uso da mesma. Estou satisfeito, porque servi
ao meu Brasil.
Que tal a gente americana? Perguntamos ainda.
- Ah! – respondeu-nos
o jovem mutilado – que gente boa! Que dedicação
de todos para com os brasileiros!
Fizemos ainda uma última pergunta – qual a sua
situação no Exército?
- Volto na
próxima segunda-feira ao Rio, onde se processa minha reforma por invalidez,
no posto de 3º sargento, mas com os vencimentos de 2º. Estou informado que a Legião
Brasileira de Assistência (LBA) dentro em breve me fará entrega de uma casa
residencial no valor de 60 mil cruzeiros, na cidade de minha preferência.
Pretendo residir na Bahia onde residem parentes meus. Voltarei aqui somente
para rever meus pais e irmãos, e também os bons conterrâneos.
O herói despediu-se e saiu pisando firme como
qualquer cidadão válido.”
(Escrito por Carvalho Déda e publicado no
jornal “A Semana”, edição nº 27, em 09/03/1947).
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