segunda-feira, 16 de setembro de 2019


UM HERÓI SIMÃODIENSE

Nos anos quarenta, alguns jovens simãodienses se alistaram no Exército Brasileiro e participaram heroicamente da Segunda Guerra Mundial, demonstrando coragem e heroísmo.

Para os que gostam de histórias de Simão Dias e para que não esqueçam dos que lutaram contra o nazifascismo, defendendo a democracia, repasso aqui um artigo escrito por meu pai, publicado na edição de 09.03.1947, do jornal A Semana, em que comenta a visita do jovem JOAQUIM OLIVEIRA CRUZ, um heroico conterrâneo, que participou ativamente da Segunda Guerra Mundial.

O pracinha Joaquim Cruz nasceu  no povoado Lagoa Seca, de nosso município, e participou  com muita coragem e heroísmo da Força Expedicionária Brasileira (FEB), no famoso “Regimento Sampaio”, que lutou na Itália, em defesa da democracia. 
  
Ao repassar, aqui, o artigo “Mutilado da Grande Guerra”, acredito que estaremos renovando a homenagem feita por meu pai, em 1947, ao ilustre simãodiense que teve participação ativa  e sofrida, lutando com coragem e heroísmo contra o nazifascismo e o preconceito  dos que odiavam a democracia.

Vale a pena ler.

 Aracaju, 16/09/2019
Beto Deda

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MUTILADO DA GRANDE GUERRA

(‘A Semana’entrevista um autêntico herói simãodiense)

                                  Escreveu Carvalho Déda, em 1947.

 No sábado passado esteve em visita a nossa redação, em companhia de seu irmão Gabriel Oliveira Cruz, o nosso conterrâneo JOAQUIM OLIVEIRA CRUZ, filho do benquisto agricultor João Francisco da Cruz, residente em Lagoa Seca, deste município.

O jovem Joaquim Cruz vem de regressar dos Estados Unidos, onde permaneceu um ano, em tratamento de saúde num dos melhores hospitais do mundo, por ter sido gravemente ferido na Itália. Tendo assentado praça na Bahia em 1943, como voluntário, foi logo transferido para São Paulo, donde seguiu para o Rio de Janeiro, embarcando dali para a Itália como parte integrante do segundo escalação da F.E.B. que constituiu o famoso “Regimento Sampaio”.

O nosso herói, além de outros ferimentos recebidos no fronte de batalha, teve sua perna esquerda completamente esfacelada, sendo amputada acima do joelho. Nos Estados Unidos foi submetido a cinco delicadas operações. Deram-lhe finalmente uma moderníssima perna mecânica que lhe permite andar, pular e até dançar! É um maravilhoso trabalho, produto da inteligência norte-americana.  

Fizemos algumas perguntas que nosso distinto visitante respondia sorridente.

Que tal a guerra?

-Briguei um bocado bom, antes de ser ferido.

Tomou parte da batalha de Monte Castelo?

- Sim; com o pessoal valente do “Regimento Sampaio”, tomei parte em todos os ataques àquela infernal posição inimiga, até que a mesma rendeu-se ante a nossa disposição de aniquilá-la de qualquer forma. De Monte Castelo saí incólume, mas em Belvedere e ... – aí o nosso amigo passou a mão sobre a perna mecânica e continuou: - Vou contar: pertencia a companhia comandada pelo bravo Capitão Iêdo, quando no dia 15 de março tivemos ordens de fazer um reconhecimento arriscado. Avançamos. Fomos pressentidos pelo inimigo que nos castigou ferozmente, obrigando-nos a um recuo. Nesse recuo, debaixo de uma chuva de ferro e fogo, caímos em um campo de mina. Um soldado que marchava ao meu lado pisou em uma mina e com a explosão da mesma o desditoso soldado teve morte imediata. Um outro companheiro foi também ferido e eu... Nem sei que fim  levou minha perna de carne! Recebi vários ferimentos e fui logo removido para o primeiro posto de saúde avançado, onde recebi os primeiros curativos, sendo removido daí para o nosso Hospital do Sangue, recuado, localizado em Pistoia; daí fui transportado para os Estados Unidos, onde permaneci até agora, esperando que me fosse adaptada uma perna de alumínio e concluir o treino necessário ao uso da mesma. Estou satisfeito, porque servi ao meu Brasil.

Que tal a gente americana? Perguntamos ainda.

- Ah! respondeu-nos o jovem mutilado – que gente boa! Que dedicação de todos para com os brasileiros!

Fizemos ainda uma última pergunta – qual a sua situação no Exército?

- Volto na próxima segunda-feira ao Rio, onde se processa minha reforma por invalidez, no posto de 3º sargento, mas com os vencimentos de 2º. Estou informado que a Legião Brasileira de Assistência (LBA) dentro em breve me fará entrega de uma casa residencial no valor de 60 mil cruzeiros, na cidade de minha preferência. Pretendo residir na Bahia onde residem parentes meus. Voltarei aqui somente para rever meus pais e irmãos, e também os bons conterrâneos.

O herói despediu-se e saiu pisando firme como qualquer cidadão válido.”

  (Escrito por Carvalho Déda e publicado no jornal “A Semana”, edição nº 27, em 09/03/1947).



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