Um prêmio de consolação.
Muitas
vezes um fato arquivado em nossa memória é despertado por um sonho seguido de
uma simples palavra dita por alguém, como se ocorresse uma sincronicidade de
pensamentos.
Um
dia desta semana, sonhei que estava feliz porque tinha sido ganhador de um
prêmio. Pela manhã, estava em um Supermercado e encontrei-me com um antigo
colega, que lembrou do tempo que ganhamos uma medalha por ter participado do time
de futebol de salão do Colégio Atheneu. Embora não fosse titular, participei de
algumas partidas como primeiro reserva.
Entre
o meu sonho e a lembrança do amigo, aconteceu a “sincronicidade”, ou
seja, um fenômeno descoberto pelo psicólogo suíço Carl Jung, ao estudar a
relação significativa não causal entre dois fatos. Para aquele psicólogo “a
sincronicidade revela a conexão significativa entre o mundo subjetivo e o
objetivo”.
E
para complementar essa conexão, quando chequei em casa e fui guardar um
documento na gaveta da escrivaninha, vi um chaveiro e, mais uma vez, a memória
foi despertada para um prêmio que recebi no final dos anos cinquenta. Repasso,
com detalhes, como aconteceu esse prêmio.
Era
tempo de férias, acordei-me cedo e calcei meu tênis tipo basqueteira – daqueles
que tinham o cano longo e, ao lado do tornozelo, um pequeno protetor de
borracha, com o nome do fabricante – e fui à redação do jornal A Semana.
Era uma manhã ensolarada e, lembro-me como se fosse ontem, me alegrei quando vi
a beleza dos raios do astro rei descendo inclinados ao longo da Rua
do Coité, em Simão Dias.
Assim
que cheguei na redação do jornal, passei a ler um almanaque ou a revista
“Seleções - Reading Digest” - não estou seguro quanto à fonte - foi quando notei um anúncio de um órgão associado à Embaixada Italiana, que informava um
concurso literário de redação. Fiquei interessado e resolvi concorrer.
Associei
imediatamente a Itália à rua que nasci (antiga Rua dos Ribeiros), onde viveu
nos velhos tempos um italiano que tentou mudar a denominação daquele
logradouro. Embora o fato não tenha ocorrido no meu tempo, tomei conhecimento
ao ouvir relatos de meu pai.
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Antiga Rua dos Ribeiros que um italiano tentou mudar a denominação(Foto do acervo de Beto Déda) |
Cuidei
então de fazer o texto, descrevendo o estrangeiro e sua passagem por minha
terra natal.
Como
não tinha conhecido aquele gringo, usei a imaginação para descrevê-lo, me
inspirando em um ator italiano, que não me lembro o nome, mas sua fisionomia
estava presente nos seriados que passavam no Cine Ypiranga. Usei a
criatividade para dizer de suas atividades na cidade e o modo como tentou
alterar o nome da rua que morava. Contava-me meu pai que o italiano fazia
questão de demonstrar seu patriotismo, tanto é que, ao construir sua casa,
colocou em frente uma placa com letras garrafais: “Rua da Itália”. Ao
sair de Simão Dias, vendeu sua casa e fez questão de constar na escritura a
localização: “situada na Rua da Itália nesta cidade”. Apesar de seu
intento, o nome não pegou e a rua continuou a ser conhecida como Rua dos
Ribeiros, que na atualidade tem a denominação de Júlio Manoel de
Oliveira.
Enviei a redação pelo correio.
Tempos depois, não sei se passados um ou dois meses, Messias Carvalho, que era
funcionário dos Correios, entregou-me uma caixinha de encomenda com um chaveiro
e um bilhete que me enviara o patrocinador do concurso, no qual agradecia minha
participação e concedia-me, a título de consolação, um pequeno prêmio: um
chaveiro com a gravura do Coliseu Romano.
Na
época eu tinha 19 anos e vibrei com o consolo recebido. Ainda bem que me deram
atenção!
Pelo
visto, um sonho, um ligeiro diálogo com um antigo colega e o abrir de uma
gaveta fizeram-me recordar de um prêmio, um notável psicólogo suíço, um desconhecido
italiano e do meu conterrâneo Messias Carvalho que foi sacristão e trabalhava
nos Correios e Telégrafos.
Isso
é o que os entendidos denominam de sincronicidade ou conexão
significativa.
Aracaju, 03/06/2024
Beto Déda
Fico imensamente feliz em ouvir suas histórias.
ResponderExcluirSua mensagem me alegra. Receba um abraço.
ExcluirShow tio Beto. Formidável!
ResponderExcluirFiquei feliz em saber que você leu e gostou de minhas recordações. Abraços.
ExcluirMuito Bom! Tio Beto. Sinta-se inteiramente à vontade em compartilhar suas memórias conosco.
ResponderExcluirQue bom contar com sua atenção. Um abraço!
ExcluirMuito boa leitura 📖. Por vezes somos agraciados com esse fenômeno da sincronicidade, q nos faz viajar no tempo com boas recordações 👏👏👍.
ResponderExcluirFlávio Lisa.
É verdade, caro Flávio. Um abraço.
ExcluirLembro bem do carteiro Messias era amigo do meu avô Manoel de Carvalho matos.
ResponderExcluirE a rua do Ribeiro que passou a chama-se de rua Júlio Manoel de Oliveira, nasci nessa rua N da para esquecer.
Amei ler.
Conta mais casos super legal 😎
Que bom manter contato com conterrâneo/a que nasceu na antiga Rua dos Ribeiros. Obrigado e pretendo contar muitos casos.
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