Lembranças e saudades do botonista
Átila e do Prof. Tavares.
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Flávio, Miguel e o pôster da FBFM em homenagem ao Sr. Atila |
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Alex participa do campeonato nacional de futebol de mesa. |
Lembrando
o futebol de botão em Simão Dias
A movimentação daquele
campeonato fez-me pensar na evolução que ocorreu no esporte que chamávamos de
futebol de botão. E lembrei-me dos anos cinquenta, quando eu e outros jovens
simãodienses praticávamos aquele esporte. Naquela época usávamos botões de
verdade e, também, improvisávamos micas de relógio e fabricávamos algum botão de
casco de coco. O goleiro era uma caixa de fósforos com o emblema do time. O
Luiz Santa Bárbara, que era tipografo d’A Semana, também jogava botões e
organizou um campeonato disputado na redação do jornal. Os jogos aconteciam em
uma mesa grande, onde cortávamos e dobrávamos as resmas de papel. Parece-me que
foi o próprio Luiz que lixou a mesa, marcou o campo com tinta branca e, antes
das partidas, colocava talco para o botões deslizarem, da mesma forma que usava
na impressora de modo o fazer correr os jornais pelas pinças e linhas.
Lembro-me que vários jogadores foram selecionados para o campeonato, entre
outros: o Luiz, eu, Zé Valadares, Cláudio Déda, Daniel Guimarães e, parece-me,
o José Américo Rodrigues.
O meu time era o Bangu.
Como flamenguista, preferia que o time fosse o Flamengo. Não deu certo. O Mengo
já era o time de Luiz Santa Barbara.
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A caixa que eu guardava meus botões |
Eu guardava com o maior cuidado os botões em
uma caixa de talco Cashmere Bouquet.
Na época, devido ao frio em Simão Dias, era comum o uso de
sobretudo, uma capa de gabardine, com grandes botões, que pareciam com aquelas usadas por detetives
em filmes policiais. Meu pai tinha mais de uma daquelas capas e eu,
cuidadosamente, retirei bonitos botões e os incorporei ao plantel do meu time.
Meu pai percebeu minha ação. Passou-me um sermão daqueles que a gente nunca esquece.
Mas o resultado é que, semanas depois, ele me presenteou com um time
fabricado com matéria plástica, comprado aqui em Aracaju na loja Quatro e Quatrocentos. Os
botões eram vistosos e pulões. Não me adaptei ao novo time. Nem mesmo o goleiro
e as traves deram certo. Eram menores do que as que improvisávamos. O que foi
uma pena, especialmente diante da lembrança e do gesto de meu pai.
Não estou muito seguro,
mas tenho em conta que o campeão daquele torneio foi Luiz, que era o
organizador e o mais velho da turma.
Anos depois, já casado,
tentei passar para meus filhos o gosto pelo esporte e comprei o “Estrelão”,
campo transportável com facilidade. Não surtiu efeito, nem pra mim e nem pra
eles.
O Sr. Átila era um esportistas praticante e soube
partilhar esse seu interesse pelo futebol de mesa entre seus filhos. Saudades do amigo e grande botonista Átila!
Lembrando
de Salvador e do prof. Tavares
Enquanto Flávio jogava
botão, eu passeava na Boa Terra com meus netos. Lembrando os belos dias de
minha juventude na Baía de Todos os Santos: no Monte Serrat, na Igreja do
Bonfim, no Centro Histórico, em Barris, no Dique do Tororó, Itapuã e na
Federação. E neste último vem a lembrança da Escola Politécnica da Bahia, e,
consequentemente, de modo especial, as recordações do Prof. Tavares, que
lecionava ali, no curso pré-vestibular de engenharia, patrocinado pela SUDENE.
Ele era um simpático professor de matemática, idoso, branco, de estatura média,
rosto quase arredondado, cabelos efusivos muito brancos, sempre de terno e
gravata e com um cigarro à mão. Tinha
seu método de estimular os alunos, dizendo: -“A Petrobrás está oferecendo um salário tentador para engenheiro, se
você tem vocação para essa profissão, estude que não é difícil”. Dizer que
nada era difícil era seu refrão predileto. Quando terminava de apresentar determinada
explicação sempre finalizava dizendo: “Aprenda
que não é....” e esperava a turma complementar
suas frase com as palavra “...não é difícil”, só que a estudantada malandra
gritava em coro “...NÃO É FÁCIL,
PROFESSOR” e ele atirava o giz na lousa em protesto e fazendo beiço de
desagravo, com sorriso maroto...
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Entrada da Escola Politécnica da Bahia (Foto Roa Ferreira) |
Certo dia, o Prof.
Tavares, começou a brincar com os cinco sergipanos ali presentes e perguntava:
“Aqui tem algum sergipano?” E eu,
cautelosamente, elevava minha mão à meia altura. E ele dizia apontando em minha
direção: “Olha ali, um se identificando,
timidamente...”. E passava a dizer de forma engraçada, na brincadeira, sem
intenção de ferir:
“- Em
Aracaju, as mães pegam os filhos, vão até a margem do Rio Sergipe, na avenida
onde param as marinetes do interior, em frente à Ilha dos Coqueiros, e dizem, olhando
para o rio: ‘Aqui, meu filho, é o MAARR!’ E falam ‘O MAR’ com a boca cheia de
orgulho... O MAAARRR...”
Com um ar de sorriso,
exclamava, olhando pra sentir minha reação: “Sergipe,
dizem, é a cozinha da Bahia!” E balançava a cabeça em minha direção,
esperando uma resposta. E eu dizia, timidamente: “Professor, a cozinha é o melhor da Bahia!”.
Então o alegre mestre
exclamava: “Olhem, ele fala! Baixinho,
quase não se ouve, mas sabe repetir o que todos também dizem...”. E a turma danava-se a sorrir.
E o professor
finalizava fazendo merecidos elogios a Sergipe e aos sergipanos.
São lembranças do
grande Prof. Tavares!
Aracaju, 19/11/2012
Beto Déda
ResponderExcluir(Para recordação: de meus amigos Flávio, Alex, Alan; e de meus netos. E também para os antigos colegas Tércio Tojal, Lindinalva e Juarez Morais Chaves(que comigo participaram do curso patrocinado pela SUDENE na Escola Politécnica da Bahia, em 1963).