Lembranças do Atheneu
Estudei no
Atheneu em 1961/62, onde cursei os dois primeiros anos do científico. O
terceiro ano conclui em Salvador, em 1963, juntamente com outros cinco colegas
sergipanos. Fomos selecionados em um concurso da SUDENE para participarmos do
curso pré-vestibular de engenharia na Escola Politécnica da Bahia.
Quando
estudei no Atheneu, eu morava na casa de meu cunhado Haroldo, na Avenida Simeão
Sobral, zona norte da cidade, bem distante do colégio, que ficava na zona sul.
Mesmo assim, sempre fiz o trajeto a pé, como era o costume da maioria dos
estudantes da época. Aliás, lembro que tinha um colega japonês (Ryuichi Watanabe)
que morava na Granja Pedro II, lá próximo ao atual Fórum Gumercindo Bessa, e
ele também fazia o percurso a pé. Nos dias de aula de educação física, sempre
ao amanhecer, íamos correndo, para não perder o horário. Quando chegávamos à
quadra do colégio, o professor olhava para minha palidez suada e dizia que,
pelo meu porte e aparência, era possível que já tivesse realizado todos os
exercícios. Mas mesmo assim não me dispensava das aulas.
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Pose para foto no monumento na Praça Comerino |
Pensando no
Atheneu, lembrei-me do nome de alguns colegas daquela época: Joviniano, Fausto,
Tércio Tojal, Madressilva, Sônia, Luzinete, Lindinalva, Rildete, os irmãos Luiz
Alberto e Aloísio Siqueira, Ryuichi, Henrique, Roosevelt, Bidias, Antonio
Freitas, Gilson Simões, Gélio, os irmãos Byron e Ney, José Trindade, Antônio
Valadares, Danilo e muitos outros que recordo a feição, mas a memória,
momentaneamente, falha ao registrar os nomes.
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Vários colegas de turma. |
Pois bem. Em
uma tarde, no início da aula de inglês, o colega Gilson chegou atrasado. Parou
bem no centro da porta de entrada do salão e, mostrando suas faces vermelhas
banhadas de suor, dirigiu-se à Professora se expressando em inglês: – Excuse, teacher. I’m late. Sorry! (que no nosso linguajar
significa: Com licença, professora. Estou
atrasado. Desculpe-me!).
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Nossa turma na Praça Camerino. |
A boa professora,
também usando a linguagem inglesa, elogiou alegremente o desempenho do
‘aplicado’ aluno, autorizando-o entrar e sentar-se no respectivo lugar.
Gilson, um
gozador sem igual, se mostrou encantado com os elogios da mestra. Passado
aquele momento, ele veio ao meu encontro, levantou a cabeça para me olhar por
baixo dos seus óculos de grau e disse-me que repetiria a dose.
Três dias
depois, ele assim o fez e recebeu outro elogio, embora desprovido do entusiasmo
demonstrado na primeira vez. Podemos afirmar que foi uma aprovação formal, já
que os gestos da professora demonstravam certa desconfiança.
Na semana
seguinte, chega Gilson à porta da sala e, com a cara mais lisa do mundo,
começou a repetir sua desculpa em inglês. A Professora Micol não aguentou,
interrompeu-o bruscamente e exclamou:
–
Currapaco, paco paco! Você fica aí repetindo como papagaio. Decora a frase e
vem aqui impressionar. Você pensa que babado é bico e que urubu é meu louro...
Subitamente,
a professora também foi interrompida por um gaiato no fim da sala, que acrescentou: – Ele tá pensando que beira de pinico é biscoito fino e que beiço de
jegue é pão-de-ló... E foi seguido pelo riso geral da estudantada.
Ao ouvir o
inesperado aparte e o alvoroço das risadas, a Professora Micol não pestanejou e
acabou o barato da turma com uma enérgica advertência:
– Vocês estão enganados com a cor da chita!
Parem com isso! Ordem na sala!
E a classe,
caladinha, voltou aos eixos...
Adorei o comentário que me fez reviver todos os fatos narrados, um retrato da nossa sala de aula.
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