O Doidinho e o canto a Sá Mariquinha.
Em
recente encontro com familiares, dizia uma querida sobrinha que nossa memória
guarda acontecimentos como se fossem filmagens e vez por outra vêm à tona, como
flash, inesperadamente. É verdade!
Sempre
gostei de cantar no banheiro. E esta semana estava debaixo do chuveiro agitando
minha voz quando de repente, como um flash iluminando minha memória, passei a
cantarolar os versos de um menino doidinho que morava em Simão Dias, lá pelos
anos cinquenta.
Pois bem. Se
vocês tiverem paciência, contarei as lembranças que tenho do doidinho e a
cantiga a Sá Mariquinha.
Ele
era um garoto que aparentava 16 anos e, no máximo, não passava dos 18. Não
girava bem da cabeça, era maluquinho mesmo. Tinha o rosto marcado pelo sol, que
deixava marcas de sardas em sua pele branca. Cabelo curto, liso e despenteado.
O nariz empinado, a boca sempre fazendo biquinho ou mostrando a falha de um
dente frontal.
Andava
pelas ruas, sempre fora das calçadas, seguindo as valas de escoamento de águas,
em passos rápidos e largos, cantarolando seus dizeres em ritmo. Se estivesse de
bom humor, seu canto era simples, alegre e sem escândalo. Mas quando o juízo
ficava quente e confuso, não pestanejava em acelerar o seu louco andar,
transportando para seus versos palavras de baixo calão.
A cantiga preferida
dele era a que invocava uma tal Sá Mariquinha, para pedir
linha.
De então até
hoje, não descobri quem era a Sá Mariquinha e porquê ele queria
linha. Algumas pessoas da época arriscam
a sugerir que Sá Mariquinha era uma
costureira da cidade que o Doidinho pedia linha para empinar arraia. Não tenho
certeza disso.
O certo é que
ainda hoje me lembrei de alguns trechos de seu repertório. Um deles era
cantarolado quando ele estava calmo e dizia o seguinte:
- Sá Mariquinha,
eu quero linha, eu quero linha! Pularam minha cerca e roubaram três galinhas;
uma era branca e duas pretinhas...”
Quando, porém,
estava com o juízo confuso, com mau humor, seus passos aumentavam, e quase
correndo, pisoteando com força as águas que desciam pela sarjeta, olhava para
os transeuntes com seu nariz fino empinado e cantarolava:
- Sá Mariquinha,
eu quero linha, quero linha! A pica é do galo e o xibiu é da galinha...
Nesse seu cantar
de protesto, a entonação que ele dava às palavras chulas causava riso geral e
faziam as puritanas torcer o nariz, dizendo-se escandalizadas.
Eta Doidinho de
rima porreta!
Aracaju, 03/11/2014Beto Déda
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