quinta-feira, 13 de dezembro de 2018


Saudades de Carlinhos...


Nesta quinta-feira senti a dor da partida de mais um sobrinho para outra dimensão. O querido Carlos Eugênio, que carinhosamente chamávamos de Carlinhos, nos deixou e foi ao encontro de outros familiares que já estão em paragens celestiais.
Foto do meu querido sobrinho Carlinhos. 

Na angústia da cerimônia do desenlace, ocorreu-me o pensamento de uma conversa que tive, há muito tempo, com meu primo Edson Carvalho, filho de tio Sissi. Lembro-me que estávamos em Simão Dias e o Edson indagou-me se eu acreditava na vida eterna, na imortalidade da alma.

Não titubeei, respondi que acreditava sim; mas não me furtei em esclarecer que algumas vezes minha mente era inquietada por uma atroz dúvida sobre a espiritualidade.

Meu primo então me socorria com seu senso de homem de fé, com ensinamentos por ele recebidos nas missas de domingo na Igreja do Mosteiro de São Bento, na Av. Sete, em Salvador. Dizia ele que seria simples demais ousarmos pensar que a morte era o fim de tudo. E afirmava que pensar desta forma seria uma dor insuportável para aqueles que passavam pelo trágico momento de presenciarem o final da vida de uma pessoa querida. 

Edson tinha razão.

A esperança da continuidade da vida em outra dimensão se transforma em um bálsamo que nos conforta. É justamente nestes momentos de angústia, quando sentimos o peso da morte de quem amamos, que cresce nossa fé na espiritualidade e não duvidamos que, inexoravelmente, em qualquer momento estaremos nos unindo em outra dimensão.

Pensando assim é que sinto que o meu querido Carlinhos está, agora, no mundo dos espíritos, entre nossos ancestrais, comentando os acontecimentos recentes dos familiares que aqui ficaram. Não duvido que nossos desencarnados e saudosos parentes estejam felizes e sorridentes com o otimismo de meu sobrinho e seu inconfundível jeito alegre de encarar os problemas e de transformar cada momento em um ato de humor inteligente.

Guardo maravilhosas recordações de Carlinhos. De ontem e da atualidade. Entre as lembranças do passado, revejo, agora, o tempo que passamos umas férias na Fazenda “Baixão” de seus pais Chico/Malô, em Paripiranga. Isto faz muito tempo. Ele tinha mais ou menos a idade de meu neto (entre 9 e 10 anos).

Em uma manhã peguei uma espingarda e fui caçar codorna. Carlinhos me acompanhou. Com seu olhar encantador, pediu-me para dar uma olhada na espingarda. Curioso, pegou, mirou um alvo e, depois, pediu-me para atirar. No primeiro momento neguei. Ele não se deu por vencido e, com seu modo simpático -  inconfundível mesmo  – insistiu no pedido.

Antes de permitir que ele atirasse em uma fruta de mandacaru, tomei todas as precauções, explicando-lhe sobre o modo e os cuidados no uso da espingarda.  Não acertou, mas vibrou com a experiência. Recomendei-lhe, então, que não deveria falar sobre isto com sua mãe, para não preocupá-la. Concordou, com um olhar maroto. Quando voltamos à casa sede, a primeira reação dele foi contar aos irmãos sobre o seu primeiro tiro de espingarda. Não tardou a notícia chegar aos ouvidos de sua mãe.

Não é pouco dizer que minha querida irmã Malô não deixou de me censurar, mas não conteve o riso quando Carlinhos me defendeu, afirmando que não tive como evitar sua magia de pidão.

Naquela época eu me divertia fazendo aquarelas. E em determinada tarde subi uma serra que ficava em frente à casa sede da fazenda e comecei a pintar uma tela. Ao final da pintura, Carlinhos examinou cuidadosamente o quadro, disse que uma árvore não estava no lugar exato e, depois, externou seu fino humor crítico, exclamando:

Fazenda Baixão de Francisco Dias Lima - Pintura de Beto Déda 1978
- Tio, em sua pintura, a sede do “Baixão” foi transformada em uma raquete de pingue-pongue... e resumia sua crítica com uma estrondosa gargalhada. 

E ele tinha razão. Ainda hoje tenho uma cópia desse quadro, que por muito tempo ornamentou a sala de jantar da casa de seus pais em Paripiranga.

Na última vez que me encontrei com Carlinhos, ele estava sentindo o furor do triste mal que lhe consumia. Estava sentado em um sofá, em posição que não provocasse mais sofrimento. Ali conversamos muito e, não obstante o sofrimento por que passava, encantou-me com seu otimismo, fazendo pilhéria de cada assunto abordado e nos fazendo rir à vontade. Um exemplo inesquecível...

Meu sobrinho era um encanto de pessoa. E como acredito na vida eterna, sei que será recebido no lugar sagrado e que levará aos nossos saudosos familiares a mesma alegria que nos encantou aqui neste mundo.

Até breve meu querido...

Aracaju, 13/12/2018
BETO DÉDA

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