O Natal em Simão Dias, o Papai Noel e aprendendo a não
apostar.
O mês de dezembro é
mágico, tem significados encantadores, despertando o amor e nos dando força
para expandir alegrias. É o tempo de permitir que a imaginação tome conta da
gente. E eu deixo a barba crescer e transformo o vovô/tio Beto em um
desengonçado Papai Noel para levar um pouco de alegria aos meus netos,
sobrinhos e a meninada da vizinhança do Lago Dourado. E isto me faz sentir
feliz. Então, deixe-me contar essa: no último Natal, ouvi de uma criança dos
arredores de meu sítio uma frase encantadora. Disse ela, apontando-me: - Olha, Papai Noel existe mesmo! Lá está ele! E rindo, externou uma
alegria tão espontânea que me contagiou com sua linda emoção. São fatos que me
estimulam a usar o mágico uniforme vermelho.
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O desengonçado Papai Noel |
Lá pelos anos
cinquenta, em Simão Dias, a garotada conhecia que estávamos no mês de dezembro
ao perceber o florido amarelado das acácias existentes no quintal do bangalô de
Seu Pierre ou na Praça de São João. Era
o tempo encantador do Natal e da crença em deixar os sapatos juntos, ao lado da
cama, para o bom velhinho ali pôr o presente esperado. E eu acreditava nisso. Daí
a minha grande decepção ao saber que aquilo era estória para enganar menino
bobo. Então eu fui um bobão. Mas... Que
se danem! Fui um bobo feliz acreditando no bom velhinho.
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Foto da garotada em um Natal dos anos 50 |
Daquela festa de largo vem
a lembrança inesquecível do som forte e fraco da sanfona e do pandeiro que ia e
vinha, se distanciando e aproximando, de acordo com as voltas do carrossel e a
posição do vento. E tinha o cheiro inconfundível dos fifós (candeeiros) de
carbureto.
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Woody Strode que parecia com Braúna |
Outra lembrança
marcante era o grande Balanço de Seu Raimundo. Cabiam mais de quinze crianças e
o balançar era seguido de muito empurrão e gritos de alegria. O encarregado de
balançar manualmente era um senhor moreno, muito forte, que pitava um engraçado
cachimbo. Chamava-se Seu Braúna, era parecido com o ator hollywoodiano Woody Strode que atuava com John Wayne em faroestes
dirigidos por John Ford ( O homem que matou o facínora).
Recordo-me que certa
vez, logo ao chegar na Rua da Feira tive a curiosidade de jogar barrufo,
pensando em aumentar meu cabedal. Apostei uma moeda e ganhei outra. Estimulado,
joguei mais e também ganhei. Logo depois comecei a perder. E passei a jogar
pensando em recuperar as moedas perdidas. Não restou nada, fiquei “quebrado”.
Ainda era o começo da tarde e não me restara um só centavo para a festa que
começava. Então, pensei em pedir mais moedas ao meu pai, que tinha uma
sacolinha cheia de quinhentos réis. E lá fui eu ao escritório que, naquela
época, ficava na Rua dos Ribeiros em uma
casa que era do Seu Hilário. Em resposta ao meu pedido, o velho fez outra
indagação: onde gastara tão rápido as moedas que ele tinha me dado? Respondi: “- Pensando em ganhar mais, joguei no barrufo
e perdi tudo!” Então recebi uma lição inesquecível: - Nada de outras moedas e aprenda: jogo nunca mais!
Naquele Natal minha
salvação foi o tio Sissi. Fui até a Prefeitura, onde ele trabalhava, e exclamei
com a mão estirada, de pedinte: “-Minha bênção,
tio Sissi”. Ele rindo, olhando para minha mão pidona, me abençoou e me deu moedas suficientes para andar no balanço de
Braúna, comer arroz de galinha, tomar amorosa e comer confeitos de castanha. E
passar ao largo das bancas de barrufo, lembrando a lição importante do meu bom
pai: Jogar apostado, nem pensar!
Aracaju,
11/12/2012
Beto
Déda