quinta-feira, 4 de outubro de 2012


Entregando "A Semana" no frio de Simão Dias

Recentemente, meu caro amigo Clínio Carvalho Guimarães comentou no facebook sobre os dias frios em nossa cidade e sua observação fez-me lembrar do meu tempo de adolescente e das manhãs frias dos dias de sábado, em Simão Dias, quando eu andava literalmente por todas as ruas da cidade, distribuindo o jornal "A Semana", editado por meu saudoso pai.

 Nos meses de inverno era aquele frio gostoso, debelado pelo meu andar rápido de garoto. Para a maioria dos assinantes a entrega era feita por debaixo das portas, com o clarear dos primeiros raios de sol. Mas alguns deles invariavelmente aguardavam a minha passagem para a leitura matinal de "A Semana". Eram os habituês, como dizia João Jacó, locutor e projetista do Cine Brasil. Lembro-me agora de alguns deles. Na praça da Matriz, era o dentista Dr. Fraga Matos (pai de Dr. Gilson, Dr. Gildo e Auxiliadora), que com seu sorriso bonachão passava suas mãos por meus desalinhados cabelos, tal como fazia meu pai. Era um gesto que na minha mente de garoto representava o mais nobre sinal de carinho de um adulto para uma criança, era um elogio ao meu comportamento e me transmitia uma confiança enorme. Outros assinantes que também me aguardavam, esfregando as mãos para espantar o frio: na Rua de Estância, Dr. Alceu Conceição (irmão de Durval, construtor do Cine Brasil); na Rua do Coité, D. Aldina (avó de Clínio Guimarães); na Rua da Feira, Seu Inocêncio Nascimento (meu padrinho); na Rua Canafístula, Seu Zuzu (mecânico que cuidava da  usina elétrica); na Rua do Pastinho, Seu Coelho (lembro-me que era um senhor baixo, cabelos grisalhos, usava um pequeno chapéu e lia o jornal com um interesse sem igual). E alguns outros que se arriscavam a acordar cedo e enfrentar o frio do inverno.

 Como jornaleiro, lembro-me de outros dois fatos marcantes que registro aqui. O primeiro me irritava e afastava o frio que era tangido pela raiva. Tinha um colega, do Grupo Escolar, que quando me via entregando jornal, gritava para me pirraçar: - Jornaleiro, me dá um jornal feminino... Eu ficava p. da vida e tinha vontade de arremessar os jornais na cara do fi-da-p... Hoje, a lembrança me diverte.

 O outro fato é de recordação sublime, que me deixa em estado de graça sempre que lembro. É o caso da garota do fantástico baby-doll (uma curta e elegante roupa de dormir parecida com camisola). Foi assim: sabendo que a filha de um assinante acompanhava com vivo interesse matéria do jornal, eu fazia questão de entregar o exemplar pessoalmente. Escolhia a hora apropriada e anunciava em voz alta, para acordar a garota leitora: - Olha o jornal "A Semana"! E repetia até ouvir a voz melodiosa pedir que entrasse para entregar pessoalmente o jornal. Eu entrava e me deslumbrava ao ver a garota de baby-doll... As entregas e as maravilhosas visões se repetiram... E nessas ocasiões o frio não me incomodava. O Sangue fervia!

E foi assim que um comentário do amigo Clínio despertou em minha memória uma feliz recordação do frio em Simão Dias.

Aracaju, 23.08.2012

Beto Déda

 

2 comentários:

  1. Meu caro Beto,
    Fui morar em Simão Dias no início do ano de 1967 e ainda tive a felicidade de conhecer seu pai e ser leitor do Jornal "A Semana". Lembro-me muito bem a expectativa das manhãs de sábado! Era muito bom.

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  2. Naquela época (1967/68) eu já trabalhava no BNB e dirigia, com meu pai, o jornal. Vou pesquisar meus arquivos, porque tenho certeza que você e Graciene eram mencionados nos acontecimentos sociais da cidade e publicados no nosso semanário.

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