Entregando "A Semana" no frio de Simão Dias
Recentemente, meu caro amigo Clínio Carvalho Guimarães comentou no facebook sobre os dias frios em nossa
cidade e sua observação fez-me lembrar do meu tempo de
adolescente e das manhãs frias dos dias de sábado, em Simão Dias, quando eu
andava literalmente por todas as ruas da cidade, distribuindo o jornal "A
Semana", editado por meu saudoso pai.
Nos
meses de inverno era aquele frio gostoso, debelado pelo meu andar rápido de
garoto. Para a maioria dos assinantes a entrega era feita por debaixo das
portas, com o clarear dos primeiros raios de sol. Mas alguns deles
invariavelmente aguardavam a minha passagem para a leitura matinal de "A
Semana". Eram os habituês, como
dizia João Jacó, locutor e projetista do Cine Brasil. Lembro-me agora de alguns
deles. Na praça da Matriz, era o dentista Dr. Fraga Matos (pai de Dr. Gilson,
Dr. Gildo e Auxiliadora), que com seu sorriso bonachão passava suas mãos por
meus desalinhados cabelos, tal como fazia meu pai. Era um gesto que na minha mente
de garoto representava o mais nobre sinal de carinho de um adulto para uma
criança, era um elogio ao meu comportamento e me transmitia uma confiança
enorme. Outros assinantes que também me aguardavam, esfregando as mãos para
espantar o frio: na Rua de Estância, Dr. Alceu Conceição (irmão de Durval,
construtor do Cine Brasil); na Rua do Coité, D. Aldina (avó de Clínio Guimarães); na Rua da
Feira, Seu Inocêncio Nascimento (meu padrinho); na Rua Canafístula, Seu Zuzu
(mecânico que cuidava da usina elétrica); na Rua do Pastinho, Seu Coelho
(lembro-me que era um senhor baixo, cabelos grisalhos, usava um pequeno chapéu
e lia o jornal com um interesse sem igual). E alguns outros que se arriscavam a
acordar cedo e enfrentar o frio do inverno.
Como
jornaleiro, lembro-me de outros dois fatos marcantes que registro aqui. O
primeiro me irritava e afastava o frio que era tangido pela raiva. Tinha um
colega, do Grupo Escolar, que quando me via entregando jornal, gritava para me
pirraçar: - Jornaleiro, me dá um jornal
feminino... Eu ficava p. da vida e tinha vontade de arremessar os jornais na
cara do fi-da-p... Hoje, a lembrança
me diverte.
O
outro fato é de recordação sublime, que me deixa em estado de graça sempre que
lembro. É o caso da garota do fantástico baby-doll (uma curta e elegante roupa de dormir
parecida com camisola). Foi assim: sabendo que a filha de um assinante
acompanhava com vivo interesse matéria do jornal, eu fazia questão de entregar
o exemplar pessoalmente. Escolhia a hora apropriada e anunciava em voz alta,
para acordar a garota leitora: - Olha o
jornal "A Semana"! E repetia até ouvir a voz melodiosa pedir que
entrasse para entregar pessoalmente o jornal. Eu entrava e me deslumbrava ao
ver a garota de baby-doll... As entregas e as maravilhosas visões se
repetiram... E nessas ocasiões o frio não me incomodava. O Sangue fervia!
E foi assim que um comentário do amigo
Clínio despertou em minha memória uma feliz recordação do frio em Simão Dias.
Aracaju,
23.08.2012
Beto
Déda
Meu caro Beto,
ResponderExcluirFui morar em Simão Dias no início do ano de 1967 e ainda tive a felicidade de conhecer seu pai e ser leitor do Jornal "A Semana". Lembro-me muito bem a expectativa das manhãs de sábado! Era muito bom.
Naquela época (1967/68) eu já trabalhava no BNB e dirigia, com meu pai, o jornal. Vou pesquisar meus arquivos, porque tenho certeza que você e Graciene eram mencionados nos acontecimentos sociais da cidade e publicados no nosso semanário.
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