Recordações de Marcelo Déda
Sexta-feira passada, 02 de dezembro, foi um dia de lembranças de meu querido sobrinho Marcelo Déda, que há três anos
deixou nossa convivência e passou para outra dimensão de vida.
Na missa em homenagem a Marcelo, celebrada naquele dia na Paróquia Nossa
Senhora Aparecida, no Bairro Bugio, o padre sabiamente afirmava, em sua homilia, que o
momento não era de tristeza, mas de saudade, de lembranças de uma vida
exemplar que nos alegram e ao mesmo tempo marejam nossos olhos com as recordações
de seus feitos.
Ao relembrar Marcelo, usamos o toque mágico de torná-lo
imortal. E ele permanece sempre vivo ao
nosso lado.
Certamente, se aqui estivesse, estaríamos a recordar os
bons tempos de nossa terra natal, tal com fazíamos nas horas de lazer no sítio Lago
Dourado. Ele costumava afirmar que sentia imensa alegria em reviver os agradáveis
momentos de sua infância e se emocionava entre risos e lágrimas ao comentar os causos vividos na província berço.
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Marcelo Déda abraçando as crianças. |
Em um entardecer no sítio, depois de um dia de muitas
lembranças em memorável conversa, com muitos risos e lágrimas, um importante e
correto comentário de Marcelo ficou
gravado em minha memória. Com o rosto
sereno, o olhar perdido, admirando a beleza
do por de sol, ele dizia que as recordações estimulavam a
noção de nossa origem e afirmava, mais ou menos, o seguinte:
- Sabendo de onde viemos e
cultuando nossas raízes não corremos o risco de nos perdermos quando desejamos
atingir uma meta ou mesmo o objetivo de nossas conquistas.
Foi um crepúsculo realmente inesquecível e um pensamento
que o tempo não apaga.
Recordo-me, aqui, do dia em que tive a alegria de ler o
artigo “MAIOR
TORCIDA DO MUNDO - FLAMENGOOOOOOO!”, que ele escreveu no jornal O Globo e que foi
reproduzido no Jornal da Cidade, edição de 21/11/2009, no qual comentava sua
iniciação como torcedor do Flamengo e lembrava de seu tempo de criança em nossa cidade (ver a publicação de Marcelo Déda em página do site do Flamengo: www.flamengo.com.br/site/notícia/detalhe/7327).
Li e reli com alegria o texto e enviei-lhe, naquela época, uma mensagem
via e:mail, em 22/11/2009, que repasso aqui
para os parentes e amigos:
“Caro Marcelo,
Que bom saber que
você está bem. Continue se cuidando. Lembre-se que a saúde é o nosso maior e
melhor cabedal. Permanecemos rogando ao bom Deus por sua total recuperação.
Li e gostei
imensamente do seu artigo sobre sua iniciação como torcedor do Flamengo. O seu
texto, muito bem escrito e com ricos detalhes, reavivou em minha memória à época em que vivemos em Simão Dias. Lembrei-me da emoção que tive muitos
anos antes de você nascer, quando o Flamengo foi tricampeão carioca (1953/54
e 55), com uma equipe que até hoje não esqueci a escalação: Garcia, Tomírez e
Pavão, Jadir, Dequinha e Jordão, Joel, Índio, Rubens, Evaristo e
Esquerdinha (este último foi substituído por Zagalo, que logo no início
era chamado pelos torcedores simãodienses de Zé Galo).
Àquela época acompanhávamos
os jogos através do rádio, no bar de Abel. Como torcedor, estimulei todos
meus sobrinhos que comigo conviveram em Simão Dias a torcerem pelo Flamengo
e os presenteava com a camisa rubro-negra. E todos são flamenguistas (Marco,
Zezinho, César, Cristiano, Cacau e você). Diz Marco que não se liga muito em
futebol, mas continua torcendo pelo Mengão. Uma vez Flamengo...
Atualmente, tenho
evitado assistir aos jogos do time, devido ao meu problema de pressão alta e
taquicardia. Só vejo o jogo quando o Mengo está ganhando com folga de gols e,
concomitantemente, faltam poucos minutos para encerrar o match.
A propósito da
palavra “match”, em nossa terra, naquela época, era comum se usar expressões em
inglês (devido a origem Britânica do futebol). Lembro-me de algumas delas, cuja
grafia ainda tenho dúvidas. Vejamos: Goalkeep= goleiro; Back e
Full back=zagueiros; Half (esquerdo e direito) e Center-half = linha
intermediária; Center for (artilheiro); fall = falta; corner = escanteio, etc.
Lembro-me, também,
que nos anos cinquenta o simãodiense viveu intensamente a emoção do futebol,,
com quatro bons clubes: Flamengo, Vasco, Vitória e Lira. Em 1956 aconteceu um
campeonato com estes times, disputado no campo do Bairro Bonfim, que nos dias
de jogos era cercado com lona (empanada), vigiado por mata-cachorro, e tinha o
nome garboso de Gramado José Barreto. Os jogadores tinham apelidos marcantes:
Cotó, Dié, Chinoca, Bacalhau, Bacalhauzinho, Buscarré, Seça, Motorzinho,
Itaporanga, Dedinho, Dente de Ouro, Cabeção, Pé de Tábua, Zé de Marocas, Zé de
Zilda, Zé de Silvina, Done e outros.
Para minha tristeza,
o Vasco foi o campeão e houve uma grande festa patrocinada por Benedito de
Arnor, que era o dono do time. Tio Sininho era torcedor do Vasco e fez uma
grande reportagem para o jornal “A
Semana”, editado com um encarte, no qual registrava o escudo, a bandeira e a
letra do hino, que trazia o seguinte refrão: “Vasco da Gama/ Tens simpatias/És
campeão/De Simão Dias”.
Pena que, logo em seguida,
tudo acabou. A ideia de se pagar aos jogadores e se misturar futebol com
política foi o passo decisivo para o fechamento dos clubes.
Depois, acredito que
foi no seu tempo, surgiu o Cruzeiro e a construção do Estádio Luciano Cardoso,
onde ocorreram grandes jogos com o Sergipe, o Confiança, o Leônico de Salvador, o Santa Cruz, de Estância, e o Canta Galo, de
Itabaiana. A grande rivalidade mesmo era quando jogava a seleção local contra o
time de Lagarto ou de Paripiranga. Aí era briga feia...
São boas lembranças
que vieram à minha mente estimuladas pelo seu excelente artigo.
Espero que você
continue escrevendo sobre as lembranças da “catita” Simão Dias, como dizia o
inesquecível Papai Zeca.
Tudo de bom para
você, Eliane, João Marcelo e Mateus.
Um abração.
Tio Beto."
Marcelo gostou destas lembranças e
sugeriu que eu as publicasse. Foi um estímulo que me levou a fazer um artigo sobre
este assunto, publicado anos depois, em setembro de 2012, no meu blog e no
Facebook.
A verdade é que meu querido sobrinho
sobrevive alegremente em minhas recordações e em meus sonhos – que são constantes.
Aracaju,
04/12/2016
BETO
DÉDA